Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial
A noite acaba de chegar, como tantas outras noites de outono, de céus límpidos, perfeitos e sem defeitos. As estrelas exibem vaidosamente seus pingentes brilhos; muitas delas sequer existem mais, senão suas luzes que se vão deslustrando através dos séculos, séculos, amém!
Lívia, Ana Laura, Leonardo e Betinho conversam distraidamente no alpendre da casa de seus avós, assuntos joviais, de baladas noturnas e banais, coisas de galera, que só eles entendem.
De repente, veem cair do céu, uma “estrela cadente”, que de súbito desaparece.
– Vejam só, acabou de cair uma estrela sobre a terra! Meu Deus! – apontou Lívia, na sua inocência, com seu pontiagudo indicador! – Acho que o mundo vai explodir!
Betinho – universitário, repreendendo: – Não, Lívia! Não é uma estrela! É um meteorito qualquer, que se fragmenta à medida que se choca com nossa atmosfera; aliás – estratosfera, e some na terra, em forma de poeiras finas que sedimentam nas superfícies terrestres.
– Sério, Beto? Quem te falou isso? – pergunta Lívia.
– Foram os livros de astronomia, lendo, estudando e também aprendendo com um professor de geografia nos meus tempos de ginásio.
– Tá legal, Beto, se você falou, vou acreditar! Então estamos salvos, aleluia! Respondeu-lhe Lívia, muito aliviada.
Leonardo, para despertar curiosidades siderais, indaga:
– Vocês sabem qual a nossa estrela mais próxima, depois do Sol?
– Nem imagino – retruca Ana Laura, que sem demorar muito, sai da varanda e visualiza um astro dos mais brilhantes: – Aquela ali, Léo, veja que linda!
– Aquilo não é uma estrela, Ana Laura! É um planeta – diz Leonardo – observe que ele não pisca; por sinal, seu nome é Vênus – deusa romana do amor e da beleza! Um dos nossos planetas rochosos mais próximos da Terra, de montanhas altíssimas, muitos vulcões e temperaturas com mais de quatrocentos graus! Também chamado de Estrela da Manhã ou Estrela d’Alva, mas de estrela mesmo, não tem nada, nadinha! Para não se confundir, todas estrelas cintilam e têm luzes próprias, sacou?! Outro exemplo: a Lua não pisca, porque seu brilho vem do Sol!
– Ah! Não sabia disso, Léo! Tem muita lógica suas explicações!
Betinho entra novamente na conversa, respondendo à pergunta de seu irmão Leonardo:
– A estrela mais “pertinho” de nós, depois do Sol, chama-se Alfa Centauro, aquela ali – apontando também seu dedo bem longo e afinado para o hemisfério sul da esfera celeste. – Fica um pouco abaixo da Constelação Cruzeiro do Sul, conseguem observar? Não a de cima; a de baixo, com mais brilho.
Todos olharam espantados, admirando aquela “estrelinha” que descansa quase no infinito.
– Mesmo “pertinho” de nós, distancia cerca de 40 trilhões de quilômetros da Terra, muitíssimo além da zona habitável – diz Betinho, com ares e pompas intelectuais. É a terceira estrela mais brilhante, depois de Sírius e Canopus. Fora de nosso Sistema Solar, somente lá poderiam haver planetas mais próximos de nós, em órbita da mesma, com vidas inteligentes, caso existissem! Sua luz, a uma velocidade de 300.000 Km/segundo, demora em torno de 4,3 anos luz para chegar até nós. Uma distância surreal e inatingível pelos humanos!
– Quanto tempo demoraria para se chegar lá? – aprofunda Lívia no assunto. – Muito mais do que você imagina, retruca Betinho, com muita sapiência! – Mais de 100.000 anos, viajando com uma nave das mais modernas e avançadas, a 30.000 Km/hora!
– Meu Deus – replica Lívia – infinitamente longe! – Qualquer astronauta morreria logo no início desta viagem absurda!
– Então vamos esquecer os discos voadores; se não podemos ir até lá, muito menos alguém de lá vir até nós – arremata Ana Laura sabiamente, encerrando o colóquio científico entre Lívia, Leonardo, Ana Laura e Betinho – meus sobrinhos, tão ávidos e curiosos por céus, astros, planetas e estrelas cadentes!