Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

Álcool, mulheres e prejuízos

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

Muitos pedem a Deus para livrá-los das tentações. E se esquecem de se vigiar, porque o inimigo mais perigoso que podemos encontrar será sempre nós mesmos, as nossas tendências, imperfeições e defeitos de caráter.

Ninguém nasce perfeito. O que há é uma escalada evolutiva para a perfeição. Se alguém diz: “Mas Jesus era perfeito”, sim, porque ele fez a escalada em milênios de épocas passadas, em outros mundos; ele era um ser extraterrestre para nós. Somos seres ainda imperfeitos, com a condição de perfectibilidade estabelecida por Deus, cujo desígnio é a felicidade de todos.

Uma pesquisa feita pela psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo fez um alerta: as mulheres estão bebendo mais do que os homens ou tanto quanto os homens.

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Reportagem da TV Record sobre a questão do álcool mostrou mulheres, tanto sozinhas quanto acompanhadas de parceiros ou amigas, dizendo que o que as deixa à vontade, desinibidas e relaxadas, é a bebida alcoólica. Várias delas declarando que preferem bebidas mais fortes (caipirinhas, vodca, mas também chopes e cervejas), e defendendo direitos iguais para homens e mulheres.

As mulheres antigamente cozinhavam e costuravam igual à mãe. Agora, estão bebendo e fumando igual ao pai. Por outro lado, também estão mais libertas das amarras das opressões sociais. Estão sendo mais felizes?

Pesquisas de décadas anteriores apontavam que para cada 7 homens que bebiam encontrava-se uma mulher que bebia; hoje a média está em torno de 1,5 homens para 1 mulher.

O que muitas dessas mulheres talvez estejam ignorando é o que o alcoolismo causa. Talvez elas não saibam, por exemplo, que beber demais causa envelhecimento precoce. Quanto a conhecer mais ou menos: o que a pesquisa mostrou é quanto maior o grau de instrução, mais o consumo de bebida alcoólica…

Hipócrates (460 a.C.–377 a.C.), considerado o pai da Medicina, o mais célebre médico da Antiguidade e o iniciador da observação clínica, afirmava: “Antes de curar alguém, pergunte-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer”.

Para cada dez pessoas que consomem álcool, um vai se tornar dependente químico dele. Claro que, quanto uma sociedade como um todo abusa, mais esse número cresce. A dependência química é uma doença que é física (a compulsão no organismo e a síndrome de abstinência) e também é psíquica (a ideação de uso, ou seja, a obsessão pelo consumo). E é muito triste quando a pessoa fica com apenas uma ideia na cabeça – a ideia de beber, porque nada mais dá prazer.

A obsessão mais difícil de ser tratada é a da fascinação, motivo pelo qual o médico grego manda perguntar se a pessoa deseja se curar.

Muitos desconhecem os efeitos nocivos do álcool no organismo e na mente, tanto é que há psicólogos, médicos e professores recebendo tratamento clínico, que, mesmo sabendo, não acreditavam nos perigos do alcoolismo.

Cientistas italianos descobriram mais este efeito negativo do consumo excessivo de álcool: o envelhecimento precoce. De acordo com os pesquisadores da Universidade de Milão, a bebida acelera o processo natural de envelhecimento das células – e pode também aumentar as chances de desenvolvimento de câncer. A pesquisa foi apresentada na conferência anual da Associação Americana de Pesquisa do Câncer.

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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Jornal O Semanário

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