Capivari

Acidentes domésticos com crianças: prevenir é o melhor remédio

Acidentes domésticos são a principal causa de morte em crianças até 9 anos Foto: PhotoAlto/Corbis

Dados do Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes do Ministério da Saúde (Viva) demonstram que a principal causa de morte em crianças até 9 anos são acidentes domésticos como afogamentos, quedas, queimaduras, intoxicações, entre outros. Esses acidentes podem ser prevenidos a partir de mudanças simples dentro e fora de casa. Confira:

Afogamentos: Para bebês e crianças pequenas, até baldes, banheiras e vasos sanitários podem oferecer riscos. Um adulto deve sempre supervisionar as crianças e adolescentes onde houver água, mesmo que saibam nadar ou que os locais sejam considerados rasos. É primordial cercar piscinas em casas onde há crianças.

Queimaduras: Esses casos necessitam de atenção especial. Normalmente, a queimadura ocorre ao lado do fogão, quando crianças derrubam panelas e seu conteúdo sobre o corpo.

Publicidade

O clínico-intensivista João Marcelo Ramalho, diretor do Departamento de Gestão Hospitalar do Rio de Janeiro, explica que não se pode descuidar da cozinha. “Deve-se evitar cabo de panela voltado para fora do fogão, brincadeiras com álcool e fogo e também o uso de fogos de artifício, que ocorrem mais em períodos de festas juninas e festas de final de ano”.

Intoxicação: Em casos de ingestão de inseticidas, álcool, detergentes e outras substâncias tóxicas, Ramalho explica que a primeira providência dos para os pais deve ser levar a criança para uma emergência hospitalar, para que os profissionais identifiquem a substância e o tratamento que será adequado para aquela situação.

O biólogo Rômulo Oliveira, 36 anos, tem quatro filhas e ele e a esposa tomam diversas medidas para evitar acidentes. Além de colocarem portão na escada para evitar que as crianças subam sem autorização e utilizarem protetores em todas as tomadas, eles se preocupam com os materiais que podem ser ingeridos.

O biólogo explica que crianças sempre são curiosas e por isso, os pais tem que ficar atentos a tudo. “Nós fechamos todos os armários com chaves ou fitas, porque minhas filhas menores abrem, puxam e tiram os materiais de dentro. Além de espalharem objetos de cozinha pela casa, podem também pegar detergentes ou outros materiais de cozinha e colocar na boca”, conta.

O médico João Marcelo Ramalho lembra que dependendo do tempo de ingestão, uma lavagem estomacal pode solucionar. “Quando não, identificaremos a substância ingerida, se há necessidade de neutralizar o efeito, a criança deverá ficar em observação e realizará exames”, explica. Além disso, o médico informa que é errado dar qualquer bebida para a criança, achando que vai melhorar. “Não se deve forçar a ingestão de água ou leite. A melhor medida é ir para o hospital fazer exames e acompanhamento”, afirma.

Quedas: Além de observar e fornecer as orientações de comportamento e segurança para as crianças, os pais devem tomar providências como usar protetores nas tomadas e nas quinas dos móveis; não deixar cadeiras, camas e bancos perto de janelas; providenciar antiderrapantes nos tapetes para evitar escorregões, entre outros.

A professora Alzira Maria Câmara, 36 anos, mãe de Íris, de 2 anos e Ícaro, 7 anos, já passou por alguns sufocos com os filhos. Recentemente Íris bateu a cabeça em uma quina de porta ao brincar com o irmão dentro de casa. Alzira correu com a filha para o hospital e a pequena levou dois pontos na cabeça. Outra situação foi quando Ícaro ao brincar com uma corda quase foi enforcado por um amiguinho.

Apesar dos sustos, Alzira se previne para evitar acidentes. “Eu e meu marido somos muito cuidadosos em casa e trabalhamos com a ideia de que é melhor prevenir do que remediar. Com crianças tudo acontece rápido, qualquer passo é um risco. Olho aberto é a melhor saída”, conta a mãe.

Brinquedos: Na hora de escolher os brinquedos, considere a idade e o nível de habilidade da criança, seguindo as recomendações do fabricante. Procure brinquedos com o selo do INMETRO. Fique atento a brinquedos que podem oferecer risco de engasgamento (peças pequenas para bebê e as crianças menores), de estrangulamento (correntes, tiras e cordas) e de corte (pontas, bordas afiadas).

A pedagoga Ana Carolina Batista é mãe de três meninas e já se assustou com algumas brincadeiras. Quando a filha menor, Maria Fernanda tinha 1 ano, a irmã Yasmin, de quase 3 anos, resolveu brincar com miçangas e bolinhas de plástico. “Elas colocaram as bolinhas no nariz da Fernanda e empurraram com lápis de cor até fixar lá dentro. Quando vi aquilo, corri com elas para o hospital”, conta a mãe, que precisou de ajuda médica para retirar as bolinhas.

Segundo o clínico Ramalho, a mãe agiu corretamente. “Alguns machucados, quedas e brincadeiras podem não dar problema no dia, mas podem dar reações mais à frente. Existem lesões que não são aparentes”, explica o médico, que também afirmou que no hospital os cuidados são maiores, as crianças realizam raio-x e ficam em observação para qualquer reação ou problema que possa aparecer.

No carro: É importante tomar cuidados para que crianças sejam transportadas no carro de forma segura. Bebês de 0 a 1 ano devem ser transportados no bebê-conforto, no banco de trás, voltado para o vidro traseiro, segundo o Código de Trânsito Brasileiro; Crianças de 1 a 4 anos devem ser transportadas em cadeira especial no banco de trás, voltada para frente; Crianças de 4 a 6 anos, segundo o CTB devem usar os assentos de elevação (boosters), com cinto de segurança de três pontos, e serem conduzidas sempre no banco traseiro. Após os sete anos e meio, as crianças, no banco de trás, podem usar apenas o cinto de segurança de três pontos. Por lei, só é permitido sentar no banco da frente a partir dos 10 anos de idade e com cinto de segurança.

Na Caderneta de Saúde da Criança, documento que acompanha saúde, crescimento e desenvolvimento da criança do nascimento até os 9 anos, é possível consultar uma série de recomendações feitas pelo Ministério da Saúde para cada faixa etária.

SUS – Desde 2001, o Ministério da Saúde investe na Política Nacional de Redução da Mortalidade por Acidentes e Violências. Ao longo da última década, diversas estratégias foram desenvolvidas para a implantação dessa política. Dentre elas, está a estruturação da Rede Nacional de Prevenção da Violência e de Promoção da Saúde. Atualmente, a rede conta com mais de 800 municípios, que desenvolvem ações de vigilância, prevenção e atenção às crianças e adolescentes.

Foi implantado também o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), com o objetivo de obter informações sobre o comportamento desses agravos, subsidiar ações de enfrentamento dos determinantes e condicionantes das causas externas. O Viva aponta 15.098 atendimentos por acidentes domésticos realizados em serviços de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS). Deste total, 32% eram menores de 9 anos.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo