Opinião

A verdade bíblica e as ciências 4

24/07/2015

A verdade bíblica e as ciências 4

Artigo | Por Leondenis Vendramim
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Assim como na ética seletiva aristotélica o escravo era semelhante ao animal, tinha corpo forte para o trabalho enquanto os livres eram adaptados à cidadania, para os homens do poder e religiosos no Brasil a escravidão era escusada pela tese da inferioridade racial e como fim salvífico. O trabalho braçal era degradante ao cidadão, mas proporcionava frutos e penitência necessários para a salvação. A África era o inferno, o Brasil o purgatório e Portugal o céu, portanto a escravidão resgatava os negros do inferno e os purificava. Os padres criaram a doutrina de que os negros não tinham alma. O padre Vieira não permitia que os servos fugitivos recebessem sacramento. O procurador do Maranhão Manuel G. Aranha dizia que os brancos devem ser estimados e são próprios para evangelizar índios e negros, e estes “para nos servir, caçar, pescar e trabalhar para nós” (Sobrados e Mucambos, p. XVIII). A escravatura era universal, foi defendida e ensinada por filósofos, doutores, padres e governadores. Mesmo a Princesa Isabel, que assinou a lei Áurea, escreveu contra os abolicionistas, contrariando ao seu pai, defendendo os senhores de escravos.

Certa vez Jesus disse: “Eu tenho muito a vos dizer, mas vós não suportais agora” (João 16:12). Havia muitas coisas erradas aprovadas pelos homens da ciência e do poder. Os judeus estavam sob o jugo dos romanos, cujo governo estava corrompido pelos vícios, ociosidade, imoralidade, jogos, pela crueldade e perseguição religiosa. A religião judaica, mais atilada aos cumprimentos dos preceitos legais do que para temperar o caráter dos homens com humildade, amor e misericórdia. O povo quis torná-Lo rei, mas Jesus Se esquivou (João 6:15). Ele, o Rei do Universo, não Se imiscuiu na política, não Se intrometeu na decisão do governo de decapitar João, o Batista, nem para Se defender dos líderes religiosos e de Pilatos que O sentenciavam à morte tão cruel. Ele não fazia ingerência nos costumes socioeconômicos do povo, não foi abolicionista, nem revolucionário. Jesus procurava a transformação do caráter revelando amor, misericórdia, perdão, em vez de vingança e guerra. Foi isto que ensinou aos discípulos quando quiseram rogar que descesse fogo para destruir os samaritanos, quando lutavam pela primazia. Mahatma Ghandi libertou a Índia sem armas. Jesus fez a maior revolução mundial e fundou o cristianismo implantando Seu amor nos discípulos.

Hélio Schwartsman escreveu na Folha de S. Paulo (17/9/14) o artigo “Cristo e a escravidão”. Citou Ex 21:7 como autorização para vender as filhas como escravas; Lc 12:47-48 defendendo o açoite nos escravos;  Ef 6:5 e 1 Tm 6:1 para abonar a escravidão. Niilistas e ateus também já atacaram a Bíblia com essa abordagem.

A boa interpretação exige citações específicas, conhecimento do contexto, a história e significado das palavras daquele tempo e das citações dos discípulos.

Ao estudar o fato da escravidão na Bíblia, deve-se saber que o termo hebraico ebed – que significa escravo – só permite sua compreensão segundo o contexto: pode tratar-se da verdadeira escravidão ou da simples dependência do empregado assalariado. No primeiro caso é uma sujeição obrigatória e sob tortura, no segundo era espontânea aos cuidados de Deus. Os hebreus consideravam a Deus como seu Senhor. No Torah (V.T.) Abraão, Ló, Moisés, Jó, Davi e muitos outros se designavam ebed (escravos) do Senhor. Moisés sempre lembrava o povo hebreu de que foram ebed (escravos) no Egito, ressaltando a importância de Deus, que os libertou em troca de confiança e obediência (Dt, 5: 15 e 15:15). Os hebreus saíram da escravidão de 430 anos, idólatras, cheios de vícios e maus costumes. Deus não os proibiu de todos os males, mas foi mostrando Seu amor, bondade e lapidando neles outra imagem, preparando-os para serem luzes para os demais povos. Suportou maus costumes, bem como a escravidão, transformando-os aos poucos. Eles não suportariam transformação radical e repentina. Deus é sábio.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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