Arnaldo Divo Rodrigues de CamargoColunistas

A vendedora e a negação

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

No início do ano de 2015, a vendedora Claudina, 52 anos, dividia seu dia entre o trabalho e os cuidados com os dois filhos e a casa. Por hábito, nunca colocava uma roupa para lavar sem antes checar os bolsos, para ter certeza de que nada importante se perderia na água.

Na calça do filho mais velho, na época com 17 anos, ela encontrou folhas bem finas. A mãe estranhou e, ao mesmo tempo, se deu conta de que o jovem estava apresentando um comportamento diferente nas últimas semanas. Tendo concluído o ensino médio, ele dormia demais e passara a trocar o dia pela noite.

“Eu chegava do trabalho e ele estava dormindo. Depois, acordava, saía quando já era noite e voltava de madrugada. Brincava que ele parecia lobisomem”, conta Claudina. Até que os olhos avermelhados do garoto passaram a chamar a atenção. “Uma vez, cheguei a sugerir que ele estava com conjuntivite.”

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“Quando fiquei sabendo para que servia o papel (era papel de seda, usado para fazer cigarros de maconha), me faltou o chão”. Então Claudina tomou a atitude de falar com o filho. “Ele negou e disse que era de um amigo. É lógico que não acreditei.”

O problema é que as pistas deixadas pelo garoto passaram a indicar uma situação cada vez mais grave. “De repente, notei que, no quarto dele, no teclado do computador, começaram a aparecer uns farelos brancos, que pareciam farinha de trigo. Fiquei desconfiada, mas nem passava pela minha cabeça a possibilidade de ele estar cheirando cocaína ou usando crack.” Ele não trabalhava, não tinha dinheiro.

Agora ele está preso e a mãe nunca foi visitá-lo. Acredita que isso é uma tentativa de dar um choque de realidade, de fazer com que a falta da família lhe faça cair em si e desejar se regenerar. Ela comenta: “Penso nele o tempo inteiro, mas consigo dormir porque sei que, na prisão, está protegido dele mesmo”.

Dependência de drogas não é caso de polícia, é caso de saúde. Os jovens que caem nessa compulsão precisam ser orientados e acompanhados por especialistas da área, como psicólogo, terapeuta, médico e grupo de autoajuda – como AA, NA, Amor Exigente; muitas vezes, dependendo do grau, somente uma internação pode auxiliar, mas jamais a cadeia para “ajudar” um filho usuário de substâncias psicoativas. Já existem outros tratamentos mais humanizados do que a prisão…

Dependência de álcool e outras drogas – Instituto São Camilo – especializado em tratamento de dependência de álcool e outras drogas. Conta com psicólogo, médico psiquiatra, terapeutas, psicanalista, programa 12 passos e naturopatia. Informações com Dante Volante: (19) 3491-6597 Whatsapp 99945-8029 / 98263-6658.

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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Jornal O Semanário

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