O jogo de futebol é caótico e imprevisível. Tudo pode acontecer. Não é chavão. É realidade. Por isso essa modalidade arrebata multidões pelo mundo. Pela incerteza do que pode acontecer nos 90 minutos de jogo. Claro que o São Paulo pode eliminar o Talleres no jogo de volta da primeira fase da Libertadores. Mas mesmo assim os erros tricolores continuariam escancarados para o mundo. “A bola não entra por acaso”, Ferran Soriano.
Um treinador, um presidente, um diretor, enfim, um profissional com um cargo de liderança deve trabalhar para aumentar as probabilidades de sua equipe sair vitoriosa. Diante da incerteza que já citei, é fato que não há garantia de vitória em nenhum cenário. Mas há ações dentro e fora de campo que podem ou te aproximar ou te distanciar do resultado positivo. Minha análise é sistêmica. O sucesso e o fracasso no futebol nunca são explicados por um único fator. E no São Paulo a impressão que dá é que todos remam para o mesmo lado: o da derrota.
A notícia que vinte e cinco conselheiros viajaram com a delegação para a Argentina escancara a atrasada política de acordos, favores e agrados que predomina há alguns anos no Morumbi. No lugar de profissionais do mercado, com competências técnicas para tomar decisões em áreas chaves do clube, como marketing, finanças e até mesmo do futebol profissional – Raí não me passa ter as habilidades necessárias para estar a frente do carro chefe da instituição – vemos pessoas estatutárias e amadoras com a caneta nas mãos.
André Jardine é culpado. Mas também vítima. Culpado pelas escolhas equivocadas em termos de escalação, modelo de jogo e estratégia para cada partida. Mas vítima do pior momento da história do São Paulo. Jardine não deveria estar onde está. Ainda não está pronto. As competências que o fizeram ter sucesso nas categorias de base não são transportadas para o hostil ambiente do futebol profissional. Guinda-lo a equipe de cima foi uma aposta totalmente equivocada. Aposta de quem não sabe o que fazer. Aposta de uma direção que busca primeiro a sobrevivência política. Depois o bem da instituição. Não me refiro especificamente ao presidente Leco. É nítido que ele ama o São Paulo. Mas o excesso de jogo de cintura está matando sua administração.
Sem título de expressão desde 2008 – de 1957 a 1970 o Tricolor também não ganhou nada, mas havia ali a construção do Morumbi, hoje só há queda em termos de imagem, patrimônio e arrecadação -, inúmeros treinadores e jogadores de comprovada competência não conseguiram no São Paulo mostrar seu valor. Ou seja, repito que o problema não é individual. É complexo, é sistêmico. Em campo se vê um retrato do que é o clube como um todo. E hoje o São Paulo é sinônimo de mediocridade.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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