Segundo uma edição do relatório Mental State of the World Report (Relatório sobre o estado mental global), o mundo vive uma verdadeira epidemia de comprometimento da saúde mental, tendo a depressão e a ansiedade como os transtornos mais incapacitantes da era contemporânea.
O relatório indica que o mundo já vinha com um declínio na qualidade da saúde mental na última década, e a pandemia elevou o que era preocupante a níveis críticos. E, de acordo com especialistas, ainda não é possível encontrar nenhum sinal de melhora no horizonte. Nesse contexto, muito tem se falado sobre a importância da espiritualidade e de práticas de oração e meditação como auxiliares no tratamento da ansiedade e depressão, já que tais práticas favorecem o senso de pertencimento a algo maior que a si mesmo, proporcionando um novo sentido de vida.
Sabemos que a ansiedade é um mecanismo natural do nosso organismo que nos ajuda a identificar e reagir aos perigos que nos rondam. É uma espécie de “alarme de emergência” interno que nas últimas décadas tem estado descontrolado pelo excesso de pensamentos negativos, medos irracionais e estresse crônico, próprio do estilo de vida atual.
Mas também nos chama a atenção o fato de que os transtornos de ordem psicológica avançaram significativamente nas últimas décadas na medida em que houve um afastamento de estruturas que até então davam um sentido de vida às pessoas, como a fé e a religiosidade.
Um dos principais benefícios da espiritualidade é promover justamente este senso de propósito e pertencimento que ficou fragmentado na chamada “morte de Deus” profetizada pelo niilismo e pelo racionalismo.
Quando as pessoas se conectam com suas crenças espirituais, muitas vezes encontram um significado mais profundo em suas experiências e desafios, e isto ajuda a reduzir os sentimentos de desesperança e confusão que, muitas vezes, acompanham a ansiedade.
Nesse contexto, a prática da oração e da contemplação tem apresentado resultados positivos no manejo da ansiedade, pois atua proporcionando momentos de pausa e reflexão para ajudar a acalmar a mente.
Pesquisas mostram que a oração pode reduzir os níveis do hormônio do estresse cortisol e induzir um estado de relaxamento. Este estado de calma pode ser especialmente útil durante ataques de ansiedade, ajudando a reduzir a intensidade dos sintomas.
A oração também pode desenvolver um senso de controle e esperança. Quando as pessoas oram, muitas vezes expressam as suas preocupações e esperanças, o que pode ser uma forma de libertar emoções reprimidas. Este ato de “liberar” as preocupações pode reduzir a carga emocional e trazer clareza mental. Além disso, a oração pode fortalecer a fé num poder superior, ajudando as pessoas a sentirem que não estão sozinhas nos seus desafios e que um poder superior está a zelar por elas.
É importante dizer que a vida de oração e a prática da espiritualidade não substituem o tratamento psicoterápico e até medicamentoso se a pessoa estiver fazendo uso.
O que as pesquisas indicam é que a prática da espiritualidade atua como um importante auxiliar, potencializando aquela melhora que já acontece no acompanhamento com um profissional da saúde mental. Quando devidamente integradas, essas práticas podem complementar outras formas de terapia, ajudando as pessoas a gerir a sua ansiedade com paz e esperança.
Por Daniel Machado
*Daniel Machado de Assis é membro da Comunidade Canção Nova e Psicólogo, formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, psicoterapeuta de casal pelo Instituto J.L.Moreno, pós-graduando em psicologia clínica baseada em evidências. Com vasta experiência no atendimento clínico em contexto religioso, tem se dedicado ao estudo da psicologia da meia idade e na promoção da saúde mental e qualidade de vida através de palestras, cursos e formações.
Instagram: @danielmachadopsi