O horário do ônibus é o mesmo para todos.
E é só isso.
Os pontos de parada, são diferentes.
Os compromissos, os destinos, são diferentes.
E as pessoas… Ah, as pessoas.
Tem aquela moça. Aquela, sempre com seu garotinho no colo, com uma bolsa e uma mochila, uma em cada ombro. Que precisa subir em um ponto, deixar o filho em outro, para só depois descer em seu destino e cumprir com sua responsabilidade. Essa, podemos chamar de “mãe”.
Tem aquele garoto. Aquele, sempre com os fones de ouvido, gel no cabelo e camiseta da empresa. Pode ser de um supermercado, uma loja ou até mesmo uma fábrica. Independente. A camiseta com o logo, a mochila de trabalho e os fones, sempre estão lá. O que será que ele ouve? O que será que ele faz? Seja o que for, vamos chamá-lo de “jovem”.
E tem também aquela senhorinha, idosa. Sorridente, boa de conversa. Que sempre pergunta sobre o tempo e comenta os causos da vizinhança. Aposentada, mas nunca parada. Todo dia, no mesmo horário, o motorista ganha seu bom-dia bem humorado e os outros passageiros compartilham com ela um lugarzinho. Essa, com certeza, podemos chamar de “dona”. Podemos não saber seu nome, mas com ela, com certeza você vai conhecer o de muita gente.
Existe o homem calado. Entra, senta, vai embora. Tem seus problemas, suas contas a pagar, suas consultas para fazer. Seu silêncio marca sua presença, seu lugar no fundo do ônibus. Ora essa, lhe daremos também um nome, certo? Este, pode ser o “adulto”.
Tem a gestante, com seu barrigão saliente que não incomoda, mas deixa curioso quem vê. Será menino ou menina? Será um médico? Será um advogado? Será um artista ou um poeta? Seja quem for, vai ter saúde e isso é suficiente.
Tem aqueles adolescentes. Piercings, cabelo colorido. Mas sempre, sempre com o uniforme da escola. Eles riem, se distraem. Podem atrasar um pouquinho, afinal, aluno sem bronca não é aluno, não é?
E pensar que um dia, aquele que descansa quentinho na barriga da gestante, poderá ser uma dessas pessoas. Poderá ser o adolescente distraído, ser o jovem trabalhador. Ser o futuro pai/mãe de uma criança, o adulto ou o idoso conversador.
Um apito, uma freada.
Descem pessoas, sobem pessoas.
Desce a mãe, sobe o carteiro.
Desce o jovem, sobe o gerente de banco. (O carro quebrou? Talvez).
Desce a dona, sobe o garotinho das trufas.
“Esse passa por lá?”
“Pega o próximo!”
“Quanto é a passagem?”
“Passa por baixo da catraca, criança não paga!”
O motorista olha o retrovisor. Seu pé pisa fundo, atendendo a parada solicitada.
De repente, silêncio.
O sol continua a pino, as conversas continuam fluindo.
O tilintar das moedas, o roçar dos trocos, dos passes.
Os bom-dia se tornando “boa tarde”, “boa noite”.
Mas tudo bem, amanhã tem mais.
O livro está fechado, mas a página está marcada com um papel velho.
Afinal…
A menina que lê, também sabe contar histórias.