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A invisibilidade da Mulher com Deficiência

Trazendo a discussão de deficiência para a convergência com o gênero, é perceptível que dentro do grupo das pessoas com deficiência estão as mulheres, duplamente atingidas pelos estereótipos e práticas que as discriminam por causa do gênero e da deficiência.

Essa junção discriminatória gera uma série de barreiras atitudinais, onde são impostas ideias como: não podem trabalhar, não podem cuidar da casa, são impedidas de vivenciar experiências sexuais e de maternidade, enfrentam dificuldades maiores do que qualquer outra mulher para ingressar no ensino básico, no ensino superior e posteriormente no mercado de trabalho, e quando conseguem serem inseridas no mercado de trabalho essas mulheres são remuneradas de forma incompatível com suas formações profissionais chegando a receber menos do que uma mulher sem nenhum tipo de deficiência.

Essas opiniões apoiadas em caracterizações de gênero e dos impedimentos ocasionados pela situação de deficiência comprometem o contexto social da vida das mulheres com deficiência, fazendo-as se sentirem afastadas e esquecidas perante o olhar julgador da sociedade.

Das 18,6 milhões de pessoas com deficiência, mais da metade são mulheres, com 10,7 milhões, o que representa 10% da população feminina com deficiência no País segundo o IBGE! No IBGE de 2014 dizia que eram mais de 26 milhões de mulheres!!! Não tem como essa realidade continuar invisível inclusive até nos dados do IBGE!!!
Mulheres com deficiência não têm espaço nos meios de comunicação de massa para falar sobre assuntos que são comuns a todas as mulheres, como filhos, mercado e trabalho, etc.

E uma curiosidade: A intersecção da deficiência com o feminismo é um assunto muito complexo e por vezes ignorado dentro do próprio movimento feminista, assim como as pessoas com deficiência, de modo geral, são ignoradas pela sociedade. Estas barreiras, sejam elas físicas ou reflexos de estereótipos, condicionam a entrada de um dos grupos mais vulneráveis da nossa sociedade no movimento feminista que tem como ideologia ser um espaço seguro para todas as mulheres, independente de suas especificidades.

O distanciamento das causas sociais, especialmente da deficiência, é fruto da indiferença da mídia e da sociedade. Por muito tempo essa parcela da sociedade foi marginalizada, tinha que esperar que as outras pessoas fizessem tudo por elas, inclusive ser a voz de suas lutas por direitos. Foram convencidas que não podiam participar ativamente do convívio social, muito menos levantar a voz em movimentos de luta por direitos, como é o caso do movimento feminista. É exatamente por essa postura passiva, cheia de um preconceito histórico da sociedade que temas que vão além da acessibilidade, como a luta das mulheres com algum tipo de deficiência por direitos igualitários, não é posto em discussão pelos meios de comunicação.

Assim sendo, as mulheres com deficiência têm necessidades iguais às que não convivem com limitações físicas ou sensoriais e, portanto, deveriam estar mais representadas no movimento feminista contemporâneo. Afinal, foram as feministas que começaram a debater sobre a aceitação do corpo feminino em suas mais variadas formas, isso deve incluir até mesmo, e principalmente, a mulher com deficiência, dada toda a sua vulnerabilidade e a dificuldade que essa mulher tem de se encaixar no que é imposto pela sociedade a respeito de um corpo feminino perfeito.

Nesse sentido é imprescindível que a mulher com deficiência seja incluída nesse espaço de luta social bem como seja olhada pela sociedade como um todo na busca da quebra desses paradigmas que atingem todas as mulheres, e a mulher com deficiência com muito mais força.

Adriana Guimarães

Bióloga e Pedagoga, Professora da Educação Especial, Ativista Social-Mãeromba, Membro do Conselho da Pessoa com Deficiência em Rafard, mãe de um garotinho autista de 8 anos, o Raonic. Se quiser receber notícias sobre inclusão e acessibilidade e desejar fazer parte da minha lista de transmissão me chame whats (19) 99398-0478.

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