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A inútil posse de bola do futebol brasileiro

Marcel Capretz (Foto: Divulgação)

A crise de identidade do futebol brasileiro teima em não passar. Já falei sobre nossa cultura individualista e de ‘futebol-arte’, muito presente ainda no inconsciente coletivo pelas Copas do Mundo vencidas.

Lembramos mais dos heróis do que dos vilões, ou carregadores de piano. Lembramos mais de quem fez o gol do que de quem defendeu. Normal. Está enraizado pensar assim.Vai demorar para mudarmos pra uma visão mais coletiva do jogo.

Mas o objetivo desse texto não é simplificar cinco Copas vencidas, dizendo que se não fossem os defensores, os atacantes não brilhariam.

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Quero enfatizar aqui uma teórica busca por “resgate as origens” de alguns atuais treinadores brasileiros propondo um jogo de posse de bola com a suposta tese de que assim nossa escola futebolística está sendo respeitada e resgatada. Ledo engano.

Analisando equipes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro vejo uma pobreza de ideias e recursos ofensivos absurda. Veja bem, contra-ataque e transições ofensivas também são maneiras válidas de atacar.

E que tem a sua beleza, sim! Não partilho do conceito de que só uma ação ofensiva com mais de vinte passes é esteticamente digna. Mas até para chegar ao gol adversário com poucos passes é preciso cumprir alguns aspectos básicos da lógica do jogo. E para isso precisa ideia, treino, ou seja competência e intenção no que se faz.

Me dá agonia ver equipes com mais posse de bola do que o adversário, que trocam mais passes do que o rival só que quando mergulho nos números vejo que a maior parte desses passes é para o lado e/ou para trás e que a parte da posse menos presente é no terço final de ataque.

Oras, tivemos já o melhor futebol do mundo não porque ficávamos mais tempo com a bola. E sim porque sabíamos muito bem o que fazer com ela. Dominar o adversário não significa ter mais porcentagem de posse.

Para mim, uma equipe é superior a outra quando tem suas ações com e sem bola muito bem definidas e cumpridas com excelência. A posse é meio e não fim. Não podemos nunca nos esquecer: ganha o jogo quem faz mais gols do que o adversário e não quem tem mais tempo a bola nos pés.

O foco então deve ser criar conceitos, princípios e ideias que aproximem sua equipe a ter mais condições de gerar chances reais de gol. E para isso não precisa ter a bola por quatro minutos seguidos, por exemplo.

Evoluímos já do conceito de que para o momento ofensivo é só dar a bola no pé do craque que ele resolve. Porém vejo ainda muitas lacunas não só dos treinadores, mas dos próprios jogadores sobre domínio de espaço e tempo.

Resgatar o futebol brasileiro não é ter um suposto jogo bonito, tendo noventa por cento de posse. E sim ter uma intenção tão clara e bem executada, individual e coletivamente, que o adversário se treme todo ao saber que vai nos enfrentar.

ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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