Certamente você já ouviu falar sobre pessoas que tem ojeriza por cemitério, e não passam à frente, entre 23 horas e meia noite. “É lugar mau assombrado, causa pânico”! Você passaria? O homem é incoerente com sua própria crença.
Geralmente, os mesmos que temem o cemitério noturno, são os que creem que os maus que morreram foram ao inferno, onde estão queimando interminavelmente, sem poder sair de lá? Como, então, poderiam estar atormentando os vivos? Se os bons vão ao paraíso, e estão em plena felicidade, como viriam participar de um mundo corrupto, imoral, tão violento e vil? Analisemos o significado da palavra inferno, cemitério e outras afins.
O vocábulo inferno é outro muito curioso. Várias palavras latinas como: inferior, inferius, inferna, infernas, infernos, infero e inferno têm a mesma raiz e os mesmos significados: inferior, região inferior, em baixo, morada dos deuses infernais, de qualidade inferior, mais fraco… Dante Alighieri (1265-1321) usou a palavra inferno tanto como lugar de fogo e tormentos como de lugar abismal (ver A Divina Comédia. Canto IX).
Vergílio, no Eneida. 6:106, usou como regiões infernais. Vergílio viveu entre o ano 75 a.C. e 19 d.C., tempo em que o Zoroastrismo ou Mitraismo florescia em Roma. Vários imperadores como Vespasiano, Domiciano, Trajano, Adriano, Marco Aurélio, Cômodo, Nero, foram alguns imperadores mitraistas, sendo Constantino o mais marcante entre eles, pois mudou o sábado para o domingo (adotado pelo papado em 325) e manteve o dia 25 de dezembro, ambos em honra ao Deus Invictus Sol.
O Zoroastrismo persa, de origem hinduísta, trouxe a crença de imortalidade, inferno e paraíso. Os mitraistas adoravam o Mitra nascendo de uma rocha em seus mitreus subterrâneos (sobre o mais importante deles foi construída a Igreja de S. Clemente de Roma).
Para os zoroastristas todos atravessariam uma ponte, os que não tivessem bons pensamentos, palavras e ações caiam num abismo onde haveria tormento eterno, com trevas, quem os possuía, atravessaria a ponte e chegava ao paraíso onde viveriam felizes eternamente, criam que os demônios são criados pelos espíritos maléficos que saiam do abismo de trevas para trazer enfermidades, sofrimentos, mortes e corromper os puros.
Essa religião iraniana e o hinduísmo influenciaram muito a cultura grega. Um conto da mitologia grega fala sobre o deus Vulcanus, filho de Zeus e Vênus. Nascido muito feio, sua mãe o atirou para a Terra, com força e violência chegando a abismo donde lança labaredas de fogo (vulcão) firmando a ideia de inferno em fogo.
O V.T. usa a palavra hebraica “abbadôn” com o conceito de sepultura e é traduzida para o grego ”seol” com o mesmo sentido (Jó 26:6; 28:22; Sl 88:11); reino dos mortos (Pv. 27:20). Abbadôn também é traduzido para o grego como “Apollion” (Ap. 9:11) nominando um simbólico anjo do abismo ou o próprio abismo. Outras vezes traduz “abbadôn” por “abussos” literalmente profundidade, abismo, ou abissal (profundidade do oceano ou um abismo.
Devido à escuridão do abisso, tomou o significado de misterioso, temível, espantoso, lugar de tormento. O vocábulo grego “abissos” também é usado para designar este mundo, todo destruído, como morada de Satanás durante os mil anos (Apoc. 20:1-3) e também o fogo e enxofre destruidor final da Besta, do diabo e do falso profeta (Apoc 20:10).
O abisso arderá em fogo eterno. Claramente no sentido figurado, a palavra grega “aiônios” pode ser traduzida por eterno e por destruição cabal. O sofrimento no fogo eterno dia e noite não se harmoniza com o ensino bíblico geral.
Judas v.7 diz que Sodoma e as cidades vizinhas foram queimadas com fogo “aiônios” (eterno), porém, o fogo se extinguiu quando terminou todo o material a ser queimado. (Jesus predisse e Jerusalém foi queimada com o fogo “aiônios” (Mt 24:2; Jer 17:27), mas já está reconstruída (ver Mal 4:1; Sl 37:10,20).
Deus seria muito cruel, sádico, no mínimo injusto se permitisse aos que pecaram 100 anos ou menos sofrerem o fogo eternamente. O maus serão eliminados para não corromper o novo mundo, mas a doutrina do inferno como castigo eterno não combina com o Deus que é amor e misericordioso (Sl 103:8; 1 João 4:8).
Geena, termo grego, do hebraico “Gê hinnôn” (nome do vale, onde os judeus queimavam seus filhos ao deus Moloque (2 Cro.28:3; 33:1, 6), tornou-se o lugar da matança desses sanguinários (2Reis 23:10-14). Jesus usou esta palavra em Mt 5:22 e em outras, para ilustrar como os ímpios seriam destruídos (no fogo aiônios), mas nunca no sentido de tempo infindável.
ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim, professor de Filosofia, Ética e História. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.