Artigos

A grande pedra e a incerteza do incerto

Trafegando pelas estradas do Sul de Minas Gerais observei uma majestosa arquitetura da natureza materializada em uma grande pedra solitária e imponente engastada no alto de um morro. Parei o meu veículo, desci do mesmo, passei a observa-la e a buscar algumas respostas às seguintes questões: quantas manhãs, quantas tardes e quantas noites, desde a sua origem, ela silenciosa e assentada naquele lugar vivenciava a atmosfera mágica da contemplação.

Apreciando aquela arquitetura da natureza fui em sua direção e já bem próximo a ela, que apontava para o horizonte, tentei sentir se sua energia poderia mostrar algo que os meus olhos até então não tinham vistos, esperando com isso captar uma sabedoria inusitada. Foi quando algo em meu interior me tocou como um lembrete de que mesmo em meio à incerteza da vida a sabedoria se revela para aqueles que a buscam com o coração aberto.

Continuando a subida no morro em direção a grande pedra fui impactado por uma rajada de vento refrescante. Parei a subida à uma certa distância da grande pedra e aí me veio à mente de que a incerteza do incerto permeia nossa existência de maneira sutil e por vezes avassaladoras em um mundo onde a mudança é constante e o futuro se desenha com traços indistintos. Mas, como os fenômenos naturais não são estáticos eis que na sequência uma segunda onda de vento me tocou e despertou em mim um pensamento de que no mundo atual, mais do que nunca, a imprevisibilidade é que tece os fios da vida e a incerteza não é apenas a ausência de certeza, mas sim o tear que tece os contornos abundantes que desafiam nossas tentativas de compreensão.

Já com o motor ligado e aquecido no pensar das coisas sentei numa pedra menor, logo abaixo da grande pedra que eu contemplava, e passei a refletir que vivemos em um mundo em que aquilo que planejamos são moldadas por um horizonte incerto, onde as variáveis dos nossos planejamentos são imprevisíveis e deveras harmonizadas com as situações caóticas no decorrer do curso do tempo, que muitas vezes julgamos linear.

Voltando o meu olhar para a grande pedra, lá no alto do morro mineiro, entendi que na busca por segurança e estabilidade sempre confrontaremos com a incerteza do incerto, e que somente venceremos com a coragem que transcende nossas resistências e persistência nos desdobramentos de cada passo que damos adiante.

Assim, já prestes a descer do morro, a energia da grande pedra me despertou para o pensamento de que é no seio da incerteza que encontramos espaço para a inovação, e a descoberta de que a ausência de certeza não deve ser encarada como um obstáculo, mas sim como um convite à exploração e à adaptação, pois quase tudo no nosso cotidiano nos surpreende com um grau de complexidade em que a incerteza se torna uma constante inerente à jornada da vida.

Isto posto, entendi que a incerteza do incerto é um terreno fértil para o crescimento pessoal e coletivo, onde a resiliência se torna a ferramenta essencial para navegar as águas desconhecidas e reconhecer que a vida, por sua própria natureza, é um quebra cabeça complexo de eventos imprevisíveis e que ao se deparar com o conforto na incerteza é um ato de sabedoria, uma aceitação serena de que no tecido do desconhecido reside a verdadeira essência da jornada humana.

Nada mais restando desci do morro, entrei no carro, dei a partida no motor e continuei a minha viagem pelas estradas de Minas Gerais!

João Ulysses Laudissi

Engenheiro e ex-diretor do Senai Rafard

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?