Não quero repetir que contratar técnico estrangeiro não é garantia de sucesso. Se tivermos vinte treinadores de fora no Brasileirão, ainda assim, apenas um será campeão e quatro serão rebaixados.
Já critiquei dirigentes que vão no modismo, tentando surfar na onda do sucesso de outros clubes, desprezando totalmente o contexto – não é porque deu certo trazer um técnico estrangeiro no time A que necessariamente o time B será vencedor usando do mesmo expediente.
Porém, observando atentamente declarações de jogadores e desses próprios técnicos, além de vídeos oficiais das atividades internas (o acesso da imprensa segue restrito por conta da pandemia), tem me chamado a atenção a valorização do treinamento por parte desses profissionais. É comum ouvirmos atletas falando que nunca aprenderam tantas coisas novas. Pronto! Aqui temos um diferencial!
A nossa cultura nunca valorizou o treino. Sempre aceitou-se por aqui treinar de qualquer jeito. Pular sessão de treino. Como se fosse algo normal.
E não é! Não existe jogo de qualidade sem um treino de qualidade. Não é um estádio lotado que fará o jogador, por exemplo, ser intenso e agressivo nas ações com e sem a bola.
Não adianta o treinador ficar a beira do campo berrando, cobrando isso. Tem que ser algo treinado! Tem que estar no inconsciente do atleta. Tem que ser comportamento!
E sem uma metodologia muito clara e bem executada durante a semana nenhum princípio de jogo será transferido pro jogo de domingo.
Claro que há treinadores brasileiros que dominam conhecimentos avançadíssimos de treino. Mas falo aqui de uma cultura. Nossa “escola” de treinadores é super recente.
Temos pouquíssima literatura nacional a respeito do tema. Afinal, no futebol “antigo” o bom treinador era aquele que não atrapalhava. Os nossos jogadores eram os melhores do mundo, então para que treinar?
O sucesso no futebol é constituído de inúmeras variáveis. O treino é uma delas. Se essa onda de profissionais estrangeiros servir para elevar o nível e a consciência a respeito do treinamento por aqui já terá sido de grande valia. Treinadores vão, mas a cultura fica.
E pelo nível do nosso futebol hoje já deu pra perceber que as fórmulas do passado não funcionam no presente e muito menos funcionarão no futuro.