A substância viciante do tabaco é um alcaloide líquido chamado nicotina. É também uma das substâncias mais tóxicas para o homem, mas nos cigarros a dose é tão pequena que tem efeito estimulante. Segundo o professor da Universidade da Califórnia David Burns, estudioso do assunto, a nicotina e a heroína apresentam mecanismos semelhantes de dependência.
Quando se fuma, a nicotina absorvida interfere no funcionamento normal do cérebro – interfere no funcionamento dos neurônios – e gera um sentimento de euforia e excitação. Essa interferência, que libera endorfinas, proporciona prazer e bem-estar, e faz as pessoas ficarem viciadas no cigarro. A nicotina também causa a liberação de adrenalina – o hormônio utilizado no reflexo de “vida ou de morte” das pessoas.
A armadilha da nicotina tem cinco efeitos principais para o fumante: aumenta a pressão arterial, aumenta o batimento cardíaco, dá uma respiração mais rápida e menos profunda, libera glicose para a corrente sanguínea, inibe a liberação de insulina.
A dependência manifesta-se pela vontade que as pessoas têm da substância, quando sua concentração atinge um valor baixo na corrente sanguínea, em torno de duas horas após o uso. Por isso os fumantes têm de manter certa quantidade de nicotina satisfazendo o cérebro, fumando ao longo do dia para substituir a nicotina metabolizada.
Baseado em experiência que fazemos com pacientes nas clínicas CROAD e São Camilo, e outras feitas a partir da análise de pesquisas científicas e de documentos fornecidos pela indústria do tabaco, é acertado afirmar que é mais fácil se tornar dependente de cigarro do que de cocaína e de heroína. E também mais fácil deixar a maconha, a cocaína e o crack do que o cigarro.
Pesquisa também demonstra que, ao longo dos últimos 50 anos, os cigarros passaram a apresentar um teor maior de nicotina e receberam inclusão de amônia e açúcares, que potencializam o efeito da nicotina e tornam a fumaça mais fácil de ser inalada. O próprio formato do cigarro mudou: produtos passaram a trazer filtros com pequenos orifícios, muitas vezes imperceptíveis, que levam o fumante a aumentar o volume e a velocidade de aspiração.
A análise de relatórios demonstra que, entre 1999 e 2011, o teor de nicotina dos cigarros aumentou 14,5%. Que cérebro resiste tragar e depois ficar sem o seu “alimento de sustentação” preferido?
E aí? Vai querer parar (ou ao menos tentar), ou morrer sem dar uma chance para você?
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DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – Instituto São Camilo – especializado em tratamento de dependência de álcool e outras drogas. Conta com psicólogo, médico psiquiatra, terapeutas, psicanalista, programa 12 passos e naturopatia. Informações com Dante Volante: (19) 3491-6597 Whatsapp 99945-8029/98263-6658
ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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