Rubinho de Souza

“Velhos tempos, belos dias”

A presente geração e até mesmo as novas que virão, sequer terão conhecimento de como era o cotidiano de nossos pais, tios, avós e bisavós, como é que viviam suas vidas e como interagiam com as demais pessoas, amigos e vizinhos, numa época em que o rádio e o jornal escrito eram os meios de comunicação que tinham à disposição, a não ser que haja registro por parte de quem se recorda desse tempo, para que fique disponível e futuramente seja usado como fonte de pesquisa.

É bom que se registre que antigamente, notadamente nas pequenas cidades como a nossa, quase todos moradores, tinham o hábito de se reunirem à tarde, depois do trabalho e afazeres domésticos, em cadeiras que colocavam nas calçadas ou nos quintais das casas, onde a conversa entre eles, sempre muito animada, fluía até à noite, enquanto as crianças brincavam no chão próximos a eles.

Nos dias de calor intenso em que a noitinha ficava “abafada”, cada um pegava sua cadeira e lá iam para um lugar mais agradável, fora das casas, aproveitar o restante do dia, e nos dias de frio – também intenso – os mais velhos, já aposentados, aproveitavam a parte da manhã para sentar num lugar ao sol enquanto aguardavam o almoço, dizendo que iam bater um papo e aproveitar para “esquentar o sol”.

Nos quintais das casas ou na calçada do vizinho, na praça (foto), ou qualquer outro lugar que fosse, lá estavam a família com um grupo de amigos, às vezes de diferentes idades, a conversar e contar “causos”, falar daquilo que foi assunto na semana, onde também, quase sempre, eram trocadas experiências de vida, em que os mais idosos, passavam aos de menos idade as dificuldades que também enfrentaram, bem como a solução para superá-las.

Quando eram nas calçadas que estavam conversando, aqueles que iam passando, eventualmente paravam para cumprimentar o grupo, e muitas vezes eram oferecidas cadeiras, mas qualquer lugar servia pra sentar, um banco de madeira, tamboretes ou até no próprio chão, não importava, pois, o importante para eles era participar da conversa.

Entre eles comentava-se do tempo, da chuva da noite passada, dos preços das coisas, de alguém que estava doente, e assim, ajudando entre si, trocavam experiências sobre uso de plantas medicinais que haviam usado e melhorado a própria saúde.

Aproveitavam muitas vezes para tratar de assunto de trabalho ou mesmo sobre compromissos para o próximo dia da semana. Apesar de conversarem sobre esses assuntos, não havia discussão sobre futebol, tampouco sobre religião, e fazendo isso imperava o respeito mútuo e havia prazer nesses encontros. Tudo isso se passava numa época em que o rádio e o jornal escrito eram as principais vias de comunicação que atingia o público em geral.

Com o advento da TV, porém, tudo mudou, e aos poucos, essa maneira de interagir dos moradores, foi sendo deixada de lado, e ficou esquecida no tempo. Com a televisão, o povo passou-se a mais ouvir do que falar, passou mais a aceitar “opiniões prontas” do que ter a própria, passou-se a dar mais importância às novelas do que aos assuntos familiares que precisavam ser resolvidos.

Passou-se enfim, mais a ver o futebol pela “telinha” do que ir ao campo assistir seu time jogar, passando cada um a viver no seu “mundo interior”, alheio ao mundo real, palpável que pulsava fora dos limites da sua TV. Falando agora especificamente daqui de Rafard, na barbearia do meu pai, muitos que iam lá, diziam sentir muita falta desses bate papos e diziam que por não ter com quem conversar, gostavam de estar em nossa barbearia, onde sempre encontravam os amigos com quem outrora conversavam sentados na calçada.

Posso citar aqui alguns nomes me vem à memória neste momento, e que eram os mais assíduos frequentadores da nossa barbearia para uma conversa: Néi Gropo, Geraldo Sampaio, Ricardim Minçon, Tico Abé, Zé Siqueira, “Zé Lambreca”, César Aprilante, Big e seu pai Borsarão, Tico Peludo, Egisto Ricomini, João Engler, “Chico Serradô” e “Chico Bucheiro”, entre muitos outros. Nos dias em que Néi Gropo levantava inspirado levava o violão e logo chegava Geraldo Sampaio com o violino e Ricardim Minçon com seu cavaquinho faziam juntos uma tocata que atraía muitas pessoas que passavam pela Rua Maurício Allain, que paravam para ouvi-los.

Os jovens que nasceram na efervescência do mundo eletrônico e virtual, jamais irão entender e conseguir mensurar o quão bom e prazeroso foi viver essa época, pois, ainda que se tente traduzir em letras ou palavras o que era nossa Rafard de antigamente, é praticamente impossível que alguém consiga passar para o papel, tudo isso… Somente quem viveu esse período em suas vidas é que sabe o quanto de bom presenciamos, vivemos e aprendemos nesses velhos tempos, belos dias.

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