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Contos do Caipira: Bolinha

Bolinha era o nome da nossa cachorrinha.
Seu pelo curtinho, macio que brilhava no terreiro com a luz do dia.
Era só pegar um pedaço de madeira e jogar longe que Bolinha trazia.
Até no ribeirão, quando jogávamos alguma coisa, Bolinha saía nadando.
E a gente se divertia!
Entrava no mato, no brejo pra caçar coelho ou ratão.
Era uma cachorrinha de estimação.
Aonde a gente ia, Bolinha estava sempre com a gente.
Quando menos se esperava, Bolinha aparecia!
Andava quilômetros atrás da charrete, mas não desistia.
Até parece que estou vendo Bolinha correndo,
Acompanhando a roda da charrete.
Como Bolinha corria!
Era estimada por toda a família.
Companheira da criançada, do pai, da mãe,
Não tinha quem não se distraía!

Num certo dia, minha mãe, eu e meus irmãos
Tínhamos que dar um pulinho na cidade.
A fazenda que nós morávamos era longe, como eu já dizia.
Saímos de casa a pé, logo de manhãzinha.
A mãe, eu, meus dois irmãos e a irmãzinha.
Logo atrás vinha brincando, entrava no mato na beira da estrada, e de repente aparecia.
Assim era a nossa Bolinha!
No meio do caminho pra cidade, uma subida longa, que todos chamavam de morro grande.
Um caminhão parou e nos ofereceu carona.
Nossa mãe, cansada, subiu primeiro a criançada, e depois ela em seguida.
O caminhão deu a partida, saiu e a viagem seguia.
Depois de tudo feito na cidade, era hora de voltar. De novo voltamos a pé.
Quando chegamos na decida eu até me lembrei:
Foi aqui que o caminhão parou pra nos levar!
Que tristeza quando chegamos naquele lugar.
Estendida no chão, parecia um pedaço de pano, pisoteada pelo caminhão.
A nossa Bolinha!
Todos nós começamos a chorar, nossa mãe não conseguia, mas tentava nos consolar.
E assim comecei a pensar:
Quando subimos no caminhão, que começou a andar,
De pé na roda, pedindo pra levar,
Bolinha, Bolinha… que tristeza, que até hoje eu começo a chorar!
Foi esmagada pelas rodas, pra nunca mais nos alegrar.

Já se passaram mais de quarenta anos!
Bolinha, nunca mais tive outra igual.

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Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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