Com meu canivete afiado, desenhei o nome dela
num cerne ancestral, tombado numa curva
quase inacessível e secreta do meu sagrado rio:
– Rachel, Rachel, tens o ouro e os lábios de mel,
e também um tesouro, bem guardado lá no céu!
Num repentino dia de outono, imitando os céus do Leblon
(perfeitos, límpidos e sem defeitos),
um portal de azul-luz a levaram para o infinito:
– por que tão longe assim, ó Rachel?
– Guardo de ti as mais lindas tardes, as matinês,
os dropes que amaciavam nossos beijos,
teu calor, teus cabelos, tua cor,
as estradas, rolês e baladas;
nossos gins e cubas libres
nossas noites bem-amadas
mil camparis e rock and roll.
Dancei com Rachel, à meia-luz de neon,
as mais lindas canções
colado em seu corpo frágil
vestido de alças delicadas e sutis
e uma chuva sonora batendo lá fora –
para quem ama – infindas são as horas:
sans fin sont les nuits d´amour
(Paris flamejava em seu último tango).