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O rio da minha alma (parte 1)

“ainda que rujam e se perturbem as águas, ainda que os montes se abalem, sempre haverá um Rio cujas correntes alegram a cidade de Deus…” Salmos 46:3-4

– I –

Nas grotas e veredas, tuas nascentes
teus espelhos e plácidas margens
tuas mágicas correntes e cachoeiras
de retinas brilhantes e cristalinas
serpenteando por meandros indecisos
com fintas caprichosas e repentinas.

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Orvalhos de Hermon, cedros do Líbano
lírios do campo, Estrela da Manhã
(Sombras Sublimes da Onipotência)
prados e colinas, ricas fauna e flora
alvas torrentes de “wasserfall”
guirlandas, plântulas e dosséis;
janelas pretéritas do tempo:
“verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas”
lendas selvagens, duendes imaginários
avencas, orquídeas e púrpuras bromélias
passifloras silvestres, flores do japindá
malváceas vaidosas e retintas catleias
aconchegos e relvas, encantos do manacá
travessuras e diversões coloridas
nos tapetes verdes das saias do jatobá!

De repente, bem de repente
Dum ramo frágil e pendente
despenca uma linda flor:
— Deixa-me aqui – ela clamava,
flutuando triste a chorar
— fui nascida nesta aldeia,
não me leves para o mar!

O rio da minha alma - poesia de Dario Bicudo Piai (Depositphotos)
O rio da minha alma – poesia de Dario Bicudo Piai (Depositphotos)

Paladino de esperanças inúteis
vestido de lembranças e solidão
singro tuas águas há muito navegadas;
elas não se represam, nem se repetem
jamais serão as mesmas de outrora
quarta dimensão, o tempo, este impostor…
sombras augustas, meditações etéreas
cintilações, cores e brilhos cambiantes
quietude – no silêncio, uma voz misteriosa
aquele mesmo hálito, o mesmo perfume;
pedras que andam e dividem o tempo
pedras ousadas, pedras polidas
pedras agudas, pedras angulares
pedras lisas cansadas da vida…

Deparo a perversa ponte – de incautas travessias
andantes e amantes da noite – não os vejo mais
insisto: quem sabe os encontre nas esquinas da vida
com suas antigas charretes e decrépitos animais.

Pássaros aflitos e feridos
em tuas margens esquecidas
de flores banais e decadentes
onde ainda voam e repousam
borboletas em pousos displicentes…

Tuas montantes e jusantes
jamais serão como dantes
romperás barreiras
escarpas e rochedos
cruzando fronteiras
e contrastes imensurais,
seguirás destinos atlantes
aos mistérios abissais
do inexorável deus netuno
em soturnos abismais.

— Quo vadis, ó lendário Rio de tempos eternais?
— Onde estão tuas noivas esquecidas, emudecidas?

– II –

Rígel e Bellatrix reinam solitárias na eternidade.

A Lua – tua vizinha, lança seus “flashligths
devassando a escuridão, fingindo vigiar
aldeias e casarões coloniais
que já não existem mais…

Nas manhãs opalescentes, o sol se descortina,
invadindo ramagens e frondescências
aquecendo os frágeis ninhos e repousos
de suas aves orquestrais
que ensaiam os primeiros acordes
e seus voos matinais!

Poesia enviada pelo colaborador Dario Bicudo Piai, engenheiro e perito judicial

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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