Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

As grandes verdades novas só se implantam com mártires

Todas as verdades são fáceis de perceber depois de terem sido descobertas; o problema é descobri-las. Galileu Galilei

“Há sabedoria em não pensar que sabe o que não sabe”, diz Sócrates.

O pedagogo Allan Kardec comenta: “Isto vai endereçado às pessoas que fazem críticas àquilo sobre o que, muitas vezes, nada sabem”.

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Platão completa esse pensamento de Sócrates dizendo: “Tentemos torná-las, primeiramente – e se é possível –, mais honestas em palavras; caso contrário, não nos cuidemos com elas, e não procuremos senão a verdade.

Esforcemo-nos em nos instruir, mas não nos injuriemos”.

Há pessoas que dizem o que dizem sem conhecerem de verdade, como muitos religiosos sobre o Espiritismo; inclusive colocando na Bíblia de muitos séculos atrás frases como se fossem o Espiritismo, que somente surgiu em 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos.

O codificador da doutrina espírita complementa os ensinamentos acima: “É assim que devem agir os espíritas em relação a seus contraditores de boa ou má-fé. Se Platão revivesse hoje, encontraria as coisas mais ou menos como em seu tempo, e poderia empregar a mesma linguagem. Sócrates, assim como seu discípulo Platão, também encontraria pessoas para zombar de sua crença nos espíritos, e tratá-lo como louco.

“É por ter professado esses princípios que Sócrates foi, primeiro, tachado de ridículo, depois, acusado de impiedade, e condenado a beber cicuta. Tanto é certo que as grandes verdades novas, levantando contra si os interesses e os preconceitos que ferem, não podem estabelecer-se sem luta, e sem fazer mártires”. (1)

Encontramos assim as pessoas que falam sem saber da verdade e aqueles que mentem querendo impor sua verdade, ao que o escritor Millôr Fernandes afirmou: “As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades”.

No Evangelho do apóstolo João 18:37-38, encontramos uma cena onde dois homens se confrontam, um que não envelheceu, foi assassinado aos 33 anos, para testemunhar sua confiança na forma em que tinha vivido até então, e o outro, um homem que não entendia a verdade.

Lemos então o diálogo de Pilatos com Jesus e aquele silêncio à última pergunta. O comportamento do magistrado romano foi defendido por Nietzsche. Segundo Kelsen, ele agiu com honestidade. O Nazareno não disse nada, e podia se permitir isso. A sua vida, escreveu Kierkegaard, era a resposta. (2)

O evangelista narra as palavras cruciais: “Pilatos disse: ´Então, tu és rei?´– Jesus respondeu: ´Tu o dizes: eu sou rei. Por isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz´. Pilatos lhe disse: ´Que é a verdade?´. …

A palavra, “verdade”, com a qual a cena é cortada, nos mostra dois personagens distantes que se encontraram no momento crucial da história do Ocidente.

Encerro este texto com uma frase de Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo, escritor e crítico alemão: “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”.

1) Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo – Editora EME – Tradução, Matheus R. de Camargo.
2) Análise do escritor e jornalista italiano Armando Torno, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera.

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