Esta publicação deve ser lida, ambientada ao som das músicas dos anos 50, 60, já que o ano sobre o qual escrevo é o ano de 1958, quando Raffard era ainda uma Vila, e o prefeito de Capivari naquela época era Miguel Simão Neto, cujo mandato iniciou no dia 01 de janeiro de 1955 e terminou em 01 de janeiro de 1959.
A rua Abolição, nesse tempo era de terra, e nessa rua, existiam algumas casas, que ficavam em cima de barrancos muitos altos. Para que possa ter uma ideia, um dos lados da rua Duque de Caxias, era uma grande plantação de eucaliptos de propriedade de Pedro Capellari (avô de Palão).
Na casa da rua Abolição, esquina com a IV Centenário, bem em frente a chácara de Rino Pellegrine, morava dona Benedita, seu marido e 7 filhos. Na verdade, seis filhos, pois um deles trabalhava em São Paulo e vinha esporadicamente visitar seus pais.
Dona Benedita, que está grávida, começa a sentir as dores, e pede para uma de suas filhas que chame Aninha (Ana Carravero Alves – mãe de Maelmo), que era vizinha, para ficar com ela, e quando ela chega, pede que fale para o esposo dela, ir chamar a parteira Dona Maria Vicentin (avó de Maria Emilia), que as dores aumentaram.
Ao chegar, de bicicleta na casa de dona Maria Vicentin, ela o atende e já sabia de antemão, do que se tratava. O marido de Dona Benedita diz: – Contratei o taxista Carlo Puche para levar a senhora até minha casa, e ele já está aí na frente esperando. Dona Maria, pega uma bolsa grande com tudo o que necessitava para o seu trabalho, entra no taxi que segue veloz para a rua Abolição.
Lá chegando, encontra dona Gabriela (esposa do Inácio Arruda), que mora fazendo fundos com dona Benedita, e que havia chegado depois de Aninha: – Ela está com muitas dores? Dona Gabriela, que já havia colocado água para ferver, responde que sim. Aninha está no quarto, ao lado da cama, segurando as mãos de dona Benedita para lhe dar apoio.
O marido de dona Benedita chega logo em seguida, e diz para as crianças dele irem brincar lá fora, e não ficarem dentro da casa, e nisso dona Gabriela entra no quarto com um caldeirão e despeja toda água quente numa bacia grande e pega as toalhas e coloca-as em cima da cama, e fecha a porta. Começa o trabalho da parteira…
Era o dia 27 de abril, um domingo, que já dava sinais de que a temperatura vai começar a cair, e, às 15 horas e 20 minutos, irrompe no quarto, um choro de recém-nascido, que ecoa na casa toda. Nasceu! E, nasceu perfeito e com muita saúde! Comemora, dona Maria Vicentin ao cumprimentar o pai da criança: – É um menino! Diz ela ao pai, que festeja com todos da casa.
Dois meses depois, mais precisamente no dia 29 de junho, a lendária seleção brasileira, composta por Pelé, Garrincha, Zito, Fellini e Zagallo, vence na Suécia, a Primeira Copa do Mundo.
Na música, João Gilberto lança seu disco “Chega de Saudade” que dá início à bossa nova, e é aplaudido por críticos e fãs do mundo todo.
A revista Manchete na sua última edição, traz belas fotos da “colunata” do Palácio da Alvorada, idealizadas pelo arquiteto Niemeyer, que causa espanto internacional ao mostrar a construção de Brasília, o audacioso projeto do presidente Juscelino Kubitscheck, é mesmo uma realidade, e não mais uma lenda brasileira como muitos pensavam.
O Brasil, começa a se industrializar, e a promessa de “cinquenta anos, em cinco” se torna realidade. O Fusca ganha as ruas como nosso primeiro carro popular, e faz nascer um orgulho no brasileiro nunca antes visto.
Acompanhando essas conquistas, os meios de comunicação se desenvolvem, tanto através de veículos impressos, como pelo surgimento dos primeiros canais de televisão, apontando um novo rumo trilhado pela sociedade daquela época, com apresentação de programas ao vivo. Nos comerciais, a funcionalidade e dos benefícios de produtos, passam a fazer parte do cotidiano das famílias brasileiras. A Brinquedos Estrela traz ao Brasil o bambolê, que era um verdadeiro frisson nos Estados Unidos. E as crianças passam a ter uma programação infantil na TV que se utilizava do formato circense para promover o entretenimento.
Vive-se nesse ano de 1958, para muitos, parte dos chamados anos dourados brasileiros, e há grande entusiasmo nas famílias, na população.
E, assim o ano que nasci, passa a ser chamado pelos brasileiros de – “ O ano que não devia acabar”.