Não me canso de falar de cultura, ambiente e contexto ao analisar futebol. A intervenção de uma comissão técnica, por exemplo, deve ponderar sobre tudo que circunda determinado clube para ser mais eficaz. E pesam, também, conceitos macro. O que está por trás do jogar de determinado país?! Como o futebol foi praticado até então?! O que está enraizado na cultura, no inconsciente coletivo?
Quero trazer essa discussão para o futebol brasileiro sob a ótica do jogador sem a bola. Tanto defensiva como ofensivamente. Já ouvi de vários técnicos a dificuldade em implementar sistemas mais complexos de jogo pela falta de entendimento e vontade dos nossos atletas em atuarem distantes do centro de jogo.
A explicação mais palpável para mim vem da cultura. Isso porque esses mesmos jogadores quando vão para a Europa cumprem papéis táticos muito bem definidos. Mas aqui são engolidos pelo contexto.
O contexto histórico é muito importante para entendermos o presente e projetarmos o futuro: o jogo se desenvolveu no Brasil pautado na individualidade. O bom jogador era aquele que driblava muitos adversários. O bom treinador era aquele que não ‘atrapalhava’ o talento. E isso está enraizado até hoje.
Aparece nas crianças que brincam na rua e na escola. Nos adolescentes que jogam nas categorias de base. Até no cenário profissional há uma complacência dos próprios companheiros com aquele jogador mais habilidoso, liberando-o de atividades mais intensas de marcação. E claro que esse cenário todo desemboca na forma de o torcedor enxergar o jogo e até na maneira com que a imprensa retrata os acontecimentos.
Sei que uma cultura não se muda da noite para o dia. Leva-se anos, décadas, gerações. E vejo boas sementes sendo plantadas por aqui. Espero muito em breve ver jogadores habilidosos satisfeitos por participar de um gol, mesmo não tocando na bola, apenas guardando uma posição para atrair a atenção da marcação adversária, gerando espaço para outros companheiros. Ou então esse mesmo jogador fechando uma linha de passe quando está sem a bola, e até recompondo um setor do campo para impedir a progressão do rival.
Quanto não ganharíamos com essas situações?! Quanto não seria benéfico a quebra do dogma de que se um atacante voltar para marcar ele não teria ‘força’ (?) para cumprir suas obrigações ofensivas…evolução é tudo! O mundo mudou e, claro, o futebol também. Que nossa cultura seja preservada. Sempre. Mas evoluindo para sermos mais eficazes, abandonando aquilo que não nos aproxima mais da vitória.