A cultura futebolística no Brasil foi pautada sempre pela individualidade. No “futebol antigo”, jogadores se sobressaiam com mais facilidade. Hoje o coletivo prevalece mais do que nunca. E podemos ampliar o conceito de coletivo, que é básico já que o jogo se dá em onze contra onze, para questões de fora do campo também.
Um clube tem que estar alinhado em seus mais variados setores, como financeiro, administrativo, político, jurídico, dentre outros, para que dentro de campo o sucesso esteja mais próximo. Com cada setor funcionando bem as probabilidades de vitória aumentam.
Dentro dessa visão sistêmica e complexa, a figura do treinador é extremamente importante. É ele quem interliga tudo o que o clube gera e canaliza para as quatro linhas. Trocar o técnico significa rearranjar tudo. E o dilema do Flamengo hoje é cruel: como fazer Domenec Torrent alcançar os mesmos resultados do seu antecessor, Jorge Jesus?!
Pessoas diferentes criam relações igualmente diferentes. Eu poderia aqui falar de princípios e sub-princípios ofensivos e defensivos, de comportamentos de transição e de bola parada, mas não é só a tática que marca a diferença entre o técnico espanhol e o português.
A questão é de personalidade, de relacionamento, de comunicação, de liderança. E é óbvio que a gestão do ambiente é diferente porque se trata de pessoas diferentes. O simplista argumento de “era só dar sequência ao que vinha sendo feito” não cabe em nenhuma circunstância.
Não se trata de um motor em que trocando uma peça o motor funciona da mesma maneira. Os próprios jogadores passam a interagir de maneira diferente pela “simples” troca no comando.
A direção do Flamengo tem que ser persistente na ideia. Mostrar convicção e crença no treinador escolhido. Não estou pregando a permanência de Domenec com fim nela mesmo. Se vierem dez derrotas consecutivas não há como segurar, entendo isso. Mas perseverar diante de dificuldades iniciais é mais do que necessário.
Pegar um trabalho extremamente vitorioso traz inúmeros desafios. Esse é o momento dos dirigentes entenderem isso e mostrar que realmente o clube pensa e age de maneira diferenciada.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.