Leondenis Vendramim

Bíblia sem preconceito – 40

leondenis vendramim colunista
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

A inspirada poesia, hoje Hino a Rafard, da minha Professora Lucrécia Pellegrini Ferreira, a quem aproveito para homenagear por sua honradez, capacidade e dedicação, expressa na sua “Bellus Littera”: Rafard, terra querida… de encantos mil… É um tesouro do meu Brasil… a terra rica e hospitaleira… Teus campos ridentes de canaviais em flor… Também expressei em poesia a minha nostálgica infância “Saudades de Rafard”, quando nadávamos no rio Capivari e comíamos ingás, pitangas e outras frutas nas suas margens.

Os franceses, administradores da Usina açucareira, cuidavam das fazendas e suas estradas, todas com água potável, campo de futebol e sede social; suas represas turísticas, piqueniques domingueiros e festais à noite com “footing” e cinema.

Rafard era pujante! Atraia turistas das cidades circunvizinhas. Ah! Que saudades daquela Rafard! Perfumada pelos laranjais, não se queimava a palha da cana, e “tudo o que nela se plantava, dava”.

Publicidade

Hoje somos dominados por um capitalismo sucroalcooleiro. O Estado de São Paulo produz mais de 60% e exporta 70% do açúcar e etanol nacional. O capitalismo só planeja lucro crescente contínuo e minimizar gastos, não importando as consequências, e para alcançar as metas queima a palha da cana. Sem a queimada precisa de mais mão-de-obra, aumenta os riscos de acidente de trabalho, há presença de animais peçonhentos e de brocas e de cigarrinhas-da-raiz nas canas, a base cortada fica mais alta, desperdiça material, enfim, diminui o lucro.

Pela fotossíntese os canaviais absorvem mais CO² do que libera. No entanto, em 45 minutos de queimada, a cana libera todo esse gás na atmosfera, o que provoca um “grande impacto negativo no meio ambiente”, provoca chuva ácida, causa declínios florestais, morte de peixes, afeta a produção de frutas, tira a resistência orgânica humana, causa doenças, irritações nos olhos, problemas respiratórios dermatológicos e cardiovasculares, explicam os engenheiros da Embrapa.

Com a queima, o solo chega a mais de 800º de calor entre 1,5 cm de profundidade e 15 cm acima do solo, matando todos os animais que fofariam a terra, combateriam as pragas além de queimar muitas aves, roedores e outros animais e plantas. Com isto há necessidade de mais agrotóxicos, herbicidas, atrasa o plantio e a colheita e causa desequilíbrio ecológico. A queimada da palha da cana-de-açúcar aumenta a infestação de microorganismos, causa o ressecamento por exsudação deteriorando o caldo. Também gastam mais água e necessitam de mais complexo tratamento da água. Especialistas dizem que as queimadas têm causado perdas de 30% da matéria prima aproveitáveis como biogás pelas caldeiras. O Brasil emite 1,454 bilhão de Kg de CO² só com a queimada da palha.

As queimadas ocorrem durante o tempo da seca (abril a novembro), quando há mais dificuldade para a dispersão da fumaça e da fuligem, agravam a qualidade do ar, os ciscos da palha queimada e os resíduos do bagaço da cana condensam nas residências e vias públicas, oxidam e sujam a roupa e os carros, já lavados, é um transtorno para a população, que precisa conviver com o cheiro terrível do azoto (restilo). As árvores frutíferas, tomateiros morrem devido aos agrotóxicos despejados pelos aviões nos canaviais.

A lei estadual nº 11.241 de 2002, ineficiente, cronogramou, em benefício dos industriais, que se queime os canaviais até 2031 nas áreas com decliveis maiores que 12%, não-mecanizáveis. Proíbe queimadas de palha da cana:

  • a um quilômetro do perímetro urbano ou de reservas/locais indígenas;
  • a 100 metros de locais de domínio de subestação de energia elétrica;
  • a 50 metros de reservas, parques ecológicos e unidades de conservação;
  • a 25 metros de áreas de domínio de estações de telecomunicação;
  • a 15 metros de faixas de segurança de linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica e de rodovias e ferrovias. (Ver: João F. G. Antunes. Embrapa).

Precisamos ponderar, qual o tipo de ambiente queremos viver, o ar que respiramos, a saúde que desejamos e a nossa obrigação para com o nosso ecossistema,

A CETESB é o órgão fiscalizador. Fone 015 – 3222-2065.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim, professor de Filosofia, Ética e História. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo