Nosso futebol foi construído, desenvolvido e vitorioso com base nas individualidades. O Brasil sempre se agarrou em craques, em jogadores que poderiam fazer a diferença. Em nossas conquistas, falamos muito mais de talentos específicos do que de esquemas coletivos bem ajustados. Sempre Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo serão mais lembrados do que engrenagens táticas, movimentos sincronizados entre setores, elos de ligação dentro da própria equipe potencializando todos e outros aspectos que de um jeito ou de outro vão existir sempre, com mais ou menos qualidade, por se tratar de um jogo coletivo.
Como consequência disso temos impregnado em nossa cultura que a equipe que tiver os melhores jogadores é a que vai ganhar. Não existe mentira mais absurda do que essa! Me causa calafrios cada vez que ouço a expressão “time bom no papel”. Como assim time no papel? Quer dizer que somando as partes (jogadores) teremos um todo (equipe) melhor? É claro que um grupo que conta com atletas inteligentes e competentes para melhor resolver os problemas do jogo terá uma vantagem. Mas apenas isso, uma vantagem.
O Corinthians de 2017, apontado como quarta força de São Paulo, é o exemplo que mais grita sobre tudo isso. No famigerado ‘papel’ a equipe parecia fraca para muitos. Porém com sinergia entre os jogadores em campo, as ideias do técnico Fábio Carille e o bom ambiente entre todos os profissionais de campo parecia que o Corinthians tinha 14, 15 jogadores em campo e não apenas 11.
E para falar do ano atual, já dá para perceber claramente o erro de prognóstico de quem viu o desempenho de São Paulo e Corinthians na janela de contratações. Ao passo que o Tricolor foi mais bombástico o Timão foi mais certeiro. Para quem achava que Pablo, Hernanes e cia. mudariam o patamar (outra expressão medonha!) da equipe são-paulina a eliminação para o Talleres na primeira fase da Libertadores já foi um banho de água fria. E venho sustentando em meus comentários que o Corinthians vai evoluir, vai criar mecanismos de jogo que o colocarão como favorito em toda competição que disputar. Falo isso por enxergar no elenco jogadores que se complementam e um treinador capaz de extrair o melhor de cada um.
Pagar fortunas para treinadores badalados não é sinônimo de privilegiar o jogo coletivo. Dirigentes usam técnicos que já foram vitoriosos como escudo. A fórmula para o sucesso no futebol envolve inúmeros fatores, alguns deles já conhecidos: planejamento e conhecimento na formulação do elenco, definição de uma ideia de jogo a ser desenvolvida e ambiente e mentalidade propícios a vitória. Com esses elementos, o time em campo terá muito mais chance de ser melhor do que no papel.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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