Quem trabalha no futebol deveria pensar sempre em como melhorar tudo o que envolve o jogo: as ideias com e sem a bola, os comportamentos táticos, os gestos técnicos dos atletas, o marketing, a gestão fora de campo, a condição dos gramados, enfim, tudo que compõe o futebol como um produto. Especialmente aqui no Brasil, vemos uma fuga das novas gerações para o futebol europeu onde realmente o esporte é visto de uma maneira ampla e plural. Sem complexo de vira-latas, amigos. Lá fora, cada ‘player’ da indústria trabalha para um avanço coletivo onde todos ganham. Aqui somos individualistas e lutamos não só para ganhar, mas também para o outro perder. Por isso, nosso futebol está na segunda, quase caindo para a terceira divisão na escala mundial.
Na última rodada do Campeonato Brasileiro, tivemos um grande jogo entre Palmeiras e Ceará. Foi interessante demais ver o líder da competição tendo um embate duro contra uma equipe que luta contra o rebaixamento. Porém, após a partida, ao invés de debaterem as ideias, as ações que foram determinantes para o resultado final, o que se viu foram acusações de ambos os lados sobre o comportamento da arbitragem. O técnico do Palmeiras Luis Felips Scolari, respaldado pelo diretor do clube, Alexandre Mattos, levantou suspeitas sobre os cartões amarelos recebidos pelos seus jogadores que estavam pendurados, insinuando algo premeditado para o jogo seguinte diante do Flamengo. Do outro lado, o técnico do Ceará Lisca Doido jurou de pé junto que houve interferência externa na marcação do penalti que resultou no primeiro gol palmeirense. Com que prova ele disse isso publicamente, em sua entrevista coletiva? Nenhuma.
Não quero aqui entrar no mérito de quem está certo e quem está errado. Apenas busco refletir que será difícil evoluirmos como modalidade esportiva enquanto ficarmos discutindo sobre erros dos árbitros – que absurdamente não são profissionais. Não se busca nesse tipo de discussão uma proposta de melhorias e avanços e sim jogar pressão na arbitragem visando as próximas rodadas.
Felipão faz um trabalho espetacular no Palmeiras. Sua equipe tem uma identidade de jogo que é ao mesmo tempo simples, porém eficaz. É muito difícil hoje bater essa equipe palmeirense. Já o Ceará vem em uma recuperação fantástica, com uma equipe muito bem organizada nos quatro momentos do jogo e intensa com e sem a bola.
Mas para que falar de jogo se o que vale é usar o microfone pensando no efeito que cada palavra pronunciada irá gerar no arbitragem para o próximo jogo? Quem deveria enaltecer apenas empobrece o nosso produto futebol.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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