ColunistasLeondenis Vendramim

Direito e Democracia 9

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Outro personagem destacado, que arriscou tudo pelos direitos das classes injustiçadas foi Nelson Rolihlahla Mandela. Negro de “sangue azul”, como Zumbi, de estirpe real, seria o rei do clã Madiba, e por respeito, era chamado “Madiba” pelos seus familiares e tribais, era também chamado de “Tata” (pai) por seus conterrâneos. Nelson Mandela nasceu na pequena vila, Mvezo, Província do Cabo Leste, África do Sul, no dia 18 de julho de 1918. Mandela cursou Direito em Johannesburgo. Influenciado por Ghandy, que esteve engajado na luta contra os destratos aos pobres operários indus e africanos, principalmente contra a lei “Jin Crow”, que não reconhecia, naquele país, o casamento dos não brancos porque não eram cristãos. Mandela usava do método da Satyagraha (sem violência) incentivando o povo a participar de marchas, greves e outros protestos pacíficos. Nelson Mandela foi preso como rebelde algumas vezes e até como traidor e líder da juventude rebelde; esteve encarcerado em várias prisões, mas foi nas prisões de Robben Island, Pollsmoor e Vitor Verster que foi torturado física, moral e psicologicamente por 27 anos (novembro de 1962 a fevereiro de 1990) por liderar a luta contra o “apartheid” (segregação racial). Nelson escreveu que na prisão tinham: “uma intenção e uma diretriz deliberadas para me apartar e isolar de todo contato exterior, para me frustrar e abater, para me fazer cair no desespero e perder toda a esperança e por fim me vergar”. (Veja, 11/7/2018, p.95). Segundo The New York Times, agentes americanos da CIA dos EUA, ajudaram a segurança da África do Sul a localizar e a prender o foragido Nelson Mandela, o prisioneiro mais famoso do Mundo, devido à sua ideologia.

A “colonização” da África foi um processo dos mais sanguinários impostos pelos “civilizados” colonos europeus aos nativos indefesos. Os belgas cortavam o nariz, orelha, ou o pé, ou a mão dos nativos do Congo se não atingissem a meta do trabalho que lhes era determinado. Vide o que os espanhóis fizeram com os astecas e outros povos, o que os portugueses, os jesuítas, incluindo o “santo” José de Anchieta (espanhol), fizeram com os índios brasileiros. A África do Sul recebeu também os holandeses, franceses, alemães, ingleses e asiáticos. Os descendentes desses europeus chamados bôeres, em contraste com os africâneres, avançaram para o interior a procura de ouro e diamante, e obtiveram êxito aplicando a mão de obra “escrava”.

Desde 1949 criaram leis que proibiam o casamento entre brancos e negros; obrigavam o negro a descer da calçada ao cruzar com um branco; tinham de portar documento testando a cor da sua pele (branca, negra); ao negro era proibido adquirir terras; era-lhes vedado o direito político de votar e ser votado; negava-se-lhe o direito de circular pelas vias públicas sem o documento de permissão; era-lhes proibido participar da mesma sala de aula, quartos hospitalares, praças públicas dos brancos, etc. O apartheid teve fim em 1990 com a pertinácia de Nelson Mandela, que mesmo da prisão escreveu mais de 200 cartas a familiares, amigos, colegas do Congresso e a políticos vários. Várias dessas epístolas nunca chegaram aos destinatários, de outras, ele reclamou, nunca ter recebido resposta (obviamente censuradas), contudo as missivas mantiveram sua saúde emocional e mental além da esperança avivada de conseguir a derrocada do apartheid e uma sociedade mais igualitária. Ao sair da prisão intensificou a batalha politicamente e colheu outra vitória retumbante em 1994 tornando-se o primeiro presidente da África do Sul livre.

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Nelson Mandela costumava dizer que, assim como a escravidão e o apartheid, a pobreza não é um acidente. É uma criação do homem e pode ser eliminada com ações dos seres humanos. Talvez as aspirações e esperanças de Tzvetan Todorov (1939-2017), filólogo e historiador búlgaro, passem longe dos desafios que temos pela frente, mas seu diagnóstico das sociedades modernas e seu apelo incontestável à força da vontade humana são um primeiro intento válido de avançar no esforço coletivo para fazer do mundo um espaço de convivência mais plural, afetuosa e fraterna.

Deus criou Adão e Eva e deste casal surgiram todos os descendentes, brancos, negros, amarelos, pardos. Apesar da cor da pele, todos temos o mesmo sangue vermelho, os mesmos sentimentos e emoções, somos todos filhos de Deus, o Criador, para quem não há acepção de pessoas. (Rm 2:11; Ef 6:9).

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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