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Curiosidades: Portugal e o português – São Tomé – 11

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

A segunda fase da lenda de S. Tomé acontece no Brasil. Como vimos os europeus “descobrem” que o paraíso edênico é o Brasil. Transferem, no seu imaginário, as virtudes paradisíacas para cá e também “descobrem” que São Tomé veio evangelizar os gentios, operando os mesmos milagres e façanhas que operou no Oriente. Gostaria de saber como S. Tomé, segundo os padres, morto e enterrado em Meliapor, veio da África ao Brasil, com a cruz tão pesada! Viram suas pegadas gravadas nas rochas em solo Tupiniquim. Foi visto também no distante Peru e outros países sul americanos – ele é superprodigioso! É curioso que os índios “pagãos” mostravam as rochas onde estavam gravados os pés do discípulo. O jesuíta Simão de Vasconcelos disse que viu tais pegadas em cinco lugares diferentes, da Bahia à S. Paulo. Na cidade de Paraíba – R.J., o jesuíta disse que havia pegadas do apóstolo e de um santo menor que sempre o acompanhava, e devia ser de S. João Crisóstomo (séc. 4 d.C.) ou do Dr. Angélico (Tomás de Aquino – séc.13).

Frei Jaboatão viu pegadas em Recife e dá detalhes: “vira gravada a estampa de um pé, e era o esquerdo, tão admiravelmente impresso, que à maneira de sinete em líquida cera entrando com violência pela pedra, faz avultar as fímbrias da pegada…”. O Frei diz que a marca do pé fica até mais levantada que a pedra afundando mais as marcas dos dedos e as laterais do pé. E sem dúvida havia gravura bem legível com aparência de ser de um menino de cinco anos de idade, que o acompanhava do que se deduz ser do seu anjo da guarda (a Bíblia nada menciona sobre anjos crianças).

Manuel da Nóbrega, em 1549, diz que foi pessoalmente ver tais pisadas para ter mais certeza, e o padre, líder dos jesuítas confirma: “vi com meus próprios olhos quatro pisadas mui assinaladas com seus dedos, as quais, algumas vezes são cobertas pelo rio quando enche” (Visão do Par., 137). Disse ainda, que segundo os índios, S. Tomé deixou aquelas marcas ao fugir das flechas e o rio se abriu à sua passagem e ele caminhou a pé enxuto até à outra margem. As flechas atiradas contra o santo voltavam e matavam os próprios tupis, e até o mato se abria para sua fuga. O jesuíta Vasconcelos ainda aumenta que ao fugir dos naturais o santo subiu um monte tão alto que os íncolas não conseguiam transpor. Também diziam os padres, que da rocha que continha as pegadas, brotava fonte de água perenemente fresca e milagrosa. Ele dizia que os devotos rasparam tanto a rocha a fim de obter relíquias, que as pisadas desapareceram (Idem 138). Pe. Antony Nivet disse que viu grande milagre do Santo, um imenso rochedo apoiado em quatro pedrinhas menores que um dedo; e S. Tomé falava com os peixes e era ouvido por eles.

É muito curioso que de acordo com a marca na rocha perto de Arequipa, no Peru, S. Tomé usava sandálias de três solas (no Brasil andava descalço). “Na sola interna podia ver-se a marca do suor dos pés e eram de homem tão grande que causava espanto. Era S. Tomé, escreveu o jesuíta Antônio Ruiz. Uma senhora guardava uma delas em cofre de prata, e faz muitos milagres. O também jesuíta Pe. Diego Álvares afirmou “ter visto muitas vezes a sandália, que tinha aroma e fragrância do suor, que deixava longe qualquer olor” (Visão do Par., 145).

Numa rocha, perto de Arequipa, o jesuíta Montoya achou os sinais de dois pés e de dois joelhos, lugar onde o Santo orava. O Arcebispo D. Toríbio Mongrobejo foi pessoalmente ver esses sinais e notou também o sinal de um báculo (usado pelos bispos) ao lado dos buracos dos joelhos. Diz o dito padre que S. Tomé carregava uma cruz muito pesada, esculpida em pedra, manchada de sangue e não menos incorruptível, pois estivera imersa em lodaçal por 1.500 anos, e continuava intacta, sólida e exalando perfume particular (Idem 147). Montoya disse que S. Tomé fabricou a cruz de jacarandá e os índios lançaram-na na água, enterraram-na e depois atiraram ao fogo, sem conseguir destruí-la. Por isso, cozinhando pedaços dessa madeira seria um santo remédio, principalmente para disenteria. Assim chamam o jacarandá de Pau Santo. Tomé levou essa cruz incrível por mais de 1.200 léguas (7.920 km) pregando o Evangelho pelo Brasil.

Num tempo no qual os jesuítas eram os donos do saber, com autoridade política e religiosa (prendiam, torturavam e mandavam matar os incrédulos e contrários) os colonos e íncolas, povo analfabeto, extremamente crédulo, ingenuamente divinizavam os padres e criam nas suas mentiras (contos-do-vigário).

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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