Um dos inúmeros motivos que explicam a disparidade do futebol europeu para o praticado aqui no Brasil é a formação dos treinadores. Já coloco aqui que não existe nenhum complexo de vira-lata em minha análise. É apenas uma constatação. Ao passo que os técnicos de lá há um bom tempo não conseguem e nem podem trabalhar no alto rendimento se não tiverem os cursos básicos da Uefa, aqui no Brasil só agora a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) dá os primeiros passos para formar nossos profissionais – e uma formação que ainda requer inúmeros ajustes, desde o custo até a didática do programa.
Rótulos são péssimos. São superficiais. Rasos. E não aprofundam a discussão. Dessa forma, não há nem treinador ‘boleiro’ e nem treinador ‘estudioso’. Se for para resumir, vamos falar que tem os bons e tem os ruins. Como em toda área de atuação profissional.
Mas dentro de um contexto de complexidade do futebol ainda não aceito apenas as competências técnicas, táticas e metodológicas de treinamentos para classificar um treinador como bom. É necessário mais do que isso. Parece que nos esquecemos das habilidades interpessoais, que no passado fizeram tanta diferença no futebol brasileiro. Ou alguém duvida que um Luis Felipe Scolari, um Zagallo e até o folclórico Joel Santana não tiveram boa parte dos seus sucessos graças a hábil maneira de fazer o ambiente trabalhar em favor deles?
Por isso quando penso em um bom treinador penso na junção de inúmeros elementos que dão vida a essa função. É necessário ter conteúdo, ideias de jogo e o conhecimento para operaciona-las nos treinamentos. Porém haverá momentos que uma liderança eficaz e engajadora é que fará o resultado aparecer dentro de campo.
Talvez o maior modelo disso que estou falando seja Tite, não por acaso quem ocupa o mais alto cargo da função no Brasil. Ele é um gênio tático, um homem que revolucionou o jogo? Creio que não. Ainda vejo poucas ideias ofensivas da seleção brasileira. Mas o “jeito” de Tite cria a percepção no inconsciente coletivo de que ele sabe o que faz e dará conta do recado.
Assim como há cursos como o da CBF para aprimorar as habilidades técnicas dos profissionais de campo também há formações em liderança, relações humanas, gestão de conflitos, coaching, programação neurolinguística, etc, que ajudam o treinador a responder melhor aos problemas quando eles aparecem. O sucesso custa caro e esforço. Vence quem paga o preço.
ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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