09/03/2018
500 anos da Reforma Protestante – 8
ARTIGO | Desde a origem do cristianismo houve o protestantismo porque sempre houve liberdade, verdade e criticismo, não se pense que isto só iniciou com Lutero. Também é preciso que fique claro que Lutero não foi o único destaque nessa Reforma religiosa. Valdo, Huss, Wycliffe, Knox, Calvino, e muitos outros merecem menção como líderes nesse processo. Sem Phillip Melanchton, sem Catharina Von Bora, e sem Frederico, o Sábio Lutero não teria tido êxito. Melanchton era o teórico e moderador do arrojado Lutero e o elo com os intelectuais; Catharina, ex-freira, fugitiva do convento, mais tarde esposa, administradora dos recursos e guia do esposo (Lutero a chamava de “Senhor Catharina”); Frederico, o Sábio, eleitor da Saxônia foi outro esteio do agostiniano, a ele o Reformador deveu a segurança e a vida. Frederico se negou a enviá-lo à Roma em 1519, onde seria condenado; em 1521 obteve junto ao Kaiser um salvo-conduto até o Reichstag (Dieta) de Worms e cuidou da segurança de Lutero.
Os protestantes pretendiam uma reforma das doutrinas e dos princípios morais nos moldes da Igreja Apostólica. É inegável que a figura proeminente foi do monge agostiniano Martinho Lutero, que não só se voltou contra a corrupção do papa, prelados, clero e seus sequazes, contra a avidez pelo enriquecimento, contra as doutrinas eivadas de paganismo. Ensinavam que a Bíblia estava acima do papado, dos concílios e da tradição. “Sola Scriptura” era seu moto. A Bíblia inspirada por Deus é o guia para toda doutrina; Jesus, sendo divino, tornou-Se homem, morreu para nos salvar da culpa dos pecados e só obtemos essa justificação pela fé, “Sola Fide”. Este é o “resumo de toda doutrina cristã”, “o artigo pelo qual a igreja se mantém ou cai”, isto é, a Igreja só se mantém se o artigo for mantido.
Não é preciso que se exponha aqui mais do que já foi dito a respeito das lutas sangrentas entre os representantes do Papa, principalmente Clemente 7º e os protestantes. Ambos os partidos procuravam o apoio político, o papismo para subjugar o oponente e destruí-lo, o segundo para obter a reforma. Os protestantes dependeram dos príncipes saxônicos, que os favoreceram devido a vários motivos. Para solucionar o impasse o imperador Carlos 5º, instigado pelo papa, convocou uma reunião das autoridades católicas e protestantes em Worms em 1521, ano no qual Lutero foi excomungado pelo Papa Leão X. (Com desprezo Lutero rasgou a declaração de excomunhão). O eleitor Frederico da Saxônia conseguiu um salvo conduto para Lutero, embora o salvo conduto de Huss não o salvasse da fogueira anteriormente. Carlos 5º esperava que o Reformador abjurasse suas ideias diante dos representantes do papa e rejeitasse suas obras. A reunião foi adiada para o dia seguinte a pedido do inquirido a fim de meditar e orar. No dia seguinte, instado a responder as questões e a rejeitar e abjurar suas declarações, Lutero disse que todos os livros citados eram de sua autoria, mas que não podia renunciar a nenhuma de suas obras e ideias porque não continham nada contra a igreja de Deus e não reconhecia erro doutrinário, a menos que provassem pela Bíblia, então de pronto rejeitá-lo-ia. E acresceu: “Não posso e não irei renegar nada, pois não é nem seguro e nem correto agir contra a consciência. Que Deus me ajude. Amém”.
Johãn Eck e Girolamo Aleandro, representantes do papa, declararam-no herege e o edito de Carlo 5º declarou criminosos todos os que “seja por atos ou palavras, defendessem, sustentassem ou favorecessem o que foi dito por Martinho Lutero”. Determinou que Lutero fosse preso e punido, estipulou ainda uma generosa recompensa aos que ajudassem neste intento. Frederico o sequestrou e o escondeu no palácio de Wartburg. Esse edito foi culminante para a ruptura entre o catolicismo e o luteranismo. Nesse tempo de reclusão Martinho traduziu a Bíblia Vulgata de Jerônimo e o Novo Testamento grego de Erasmo de Roterdã para o alemão. Explodiu a Guerra dos Camponeses morrendo mais de 100.000 deles. A sociedade estava em ebulição política e religiosa. Em defesa dos luteranos surgiu João da Saxônia que liderou vários príncipes e 14 cidades pedindo a revogação do Edito de Worms e a liberdade religiosa e de consciência.
