23/02/2018
Ainda, Capivari X
ARTIGO | Seguindo o setor profissional, temos mais um religioso Jarussi; os farmacêuticos Corrêa, Andrade, Galrão, Marri e Chico da farmácia. Os relojoeiros Campos, Moroni e Carrara. As belas vozes de soprano de uma Ferraz e uma Capóssoli.
No entanto, não existe contato entre culturas sem que uma não imprima na outra, características suas. Há sempre a contribuição daquilo que é diferente, havendo sempre a influência de uma cultura sobre a outra. Dessa maneira, podemos dizer que, no caso da imigração italiana a Capivari, o movimento de influências se deu ambas as direções. Alguns hábitos italianos permaneceram e se fixaram aqui tão fortemente, que nos parecem ainda mais antigos do que de fato são.
Perderam a feição de hábitos importados tanto que passaram a constituir hábitos nossos, do povo capivariano. É o caso de alguns alimentos, desde a macarronada aos domingos ou a polenta com frango, a panhoca, o filão, até os deliciosos doces da nossa infância: o súguli e os crústoli. Desde usar algumas palavras ao cotidiano como: vasca, paura, fetta, rastelo, nonna, nonno, chamar urubu de corvo e empregar estruturas italianizantes como: “Somos em cinco” e “Vou de sábado”. O caso da palavra nonna é emblemático, pois tamanha a força do emprego desse termo que, num certo tempo, até as crianças sem ascendentes italianos chamavam assim a avó. E um caso de importação direta dos termos da língua italiana se deu com a palavra batata: ao menos há 50 anos, era entendida na cidade sempre como batata doce, reservando-se o termo batatinha para a batata inglesa; observe-se que a língua original dos imigrantes, também o termo batata é a batata doce enquanto que a patata é a batata (inglesa).
Os italianos imigrantes imprimiram à cultura local o amor e a dedicação à música, um certo tipo de religiosidade e algumas superstições. Trouxeram a valorização do trabalho, incluindo-se aí o doméstico: em geral, os seus filhos e filhas após o período de aulas, cumpriam tarefas domésticas ou auxiliavam o pai no trabalho.
As mulheres, a partir da adolescência, já preparavam o seu enxoval, costurando, bordando e fazendo biquinhos de crochê em lençóis, toalhas e panos de prato. A limpeza esmerada de uma casa, provavelmente foi um hábito trazidopelos imigrantes, talvez resquício das famosas grandes “limpezas da primavera” de quem vivia em um país em que se comemorava o fim do inverno com alegria e também com o arejar de tudo o que havia ficado fechado entre quatro paredes durante os meses de umidade e frio.
No esporte, a paixão pelo jogo de bochas (boccia) veio com os imigrantes e entrou na cultura, persistindo entre nós, ainda hoje os seus campeonatos. Essas heranças deixadas pelo imigrantes italianos na cidade perduram e compõem a amálgama que formou o capivariano que conhecemos e que somos.
Observação – Reiterando a justificativa da transcrição desta magnífica e educativa obra, parabenizando e agradecendo ao seu excelente autor, a nossa intenção é levar aos descedentes da Colônia Italiana radicada na então Villa Raffard, como nós, lembranças dos saudosos tempos de criança aqui passados, “tempos em que éramos felizes e não sabíamos”…