16/02/2018
500 anos da Reforma Protestante – 5
ARTIGO | Depois de Wycliffe surgiu seu discípulo John Huss (1369-1415), professor e reitor da Universidade de Praga (República Tcheca), brilhante orador fazia sermões na língua do povo, língua para a qual traduziu a Bíblia. Por seus ataques à corrupção e à ostentação do clero, Huss, conquistou o apoio dos camponeses, artesãos e assalariados. Huss seguia a linha de seu mestre. Dois lolardos (seguidores de Wycliffe) desenharam num muro público da Bohemia (hoje Tcheca) o Papa com a tríplice coroa de ouro incrustada de pedras preciosas, vestes ricas sendo carregado e seguido pelos cardeais, príncipes e trombeteiros; ao lado a entrada de Jesus em Jerusalém com trajes pobres num jumentinho e seus discípulos descalços. Os quadros causaram profunda impressão no povo e em Huss (ver Grande Conflito, p. 100). Em 1412 o Papa João XXIII lançou uma cruzada contra o rei Ladislau de Nápoles e ofereceu perdão de todos os pecados a quem participasse da guerra ou comprasse indulgências para ajuda-lo. Huss levantou-se contra essa prática e por isso foi excomungado e exilado. No exílio escreveu o livro “De Ecclesia”. Vendo que o movimento liderado por Huss crescia, as autoridades o convidaram para uma reunião de bispos com o Papa na Suíça, era uma armadilha. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII o prenderam e o impeliram a se retratar. Permaneceu preso durante sete meses de julgamento, com pouca oportunidade para se defender. Por não voltar atrás, Huss foi condenado como herege, despido e coroado com uma mitra de papel com figuras horrendas e escrito: “Arqui-herege”. “Com muito prazer, disse Huss, levarei sobre a cabeça a coroa da ignomínia por Teu amor, ó Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos” (Gr. Conflito, 109). Amarrado a uma estaca e queimado, morreu cantando, em grego, o hino “Kyrie Eeleeson” (Senhor tem Misericórdia), no dia 6 de julho de 1415 (Ibidem). Até as cinzas de Huss e a terra foram recolhidas e atiradas no rio Reno. O local de sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliffe, Huss lutou pela reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Ele nunca pretendeu fundar outra igreja, morreu católico.
Suas cinzas serviram de semente, sua morte inspirou outro sacerdote, Jerônimo, discípulo de Wycliffe, antes titubeante, ligou-se a Huss para pregar os mesmos ensinos e acusações de apostasias do Vaticano. Por isso, também queimado, depois de mostrar sua firme decisão diante de seus carrascos; muitos espectadores e ouvintes se comoveram. Além dele houve muitos seguidores de Huss e Jerônimo, chamados hussitas, que levantaram a bandeira do Evangelho. Contra estes hussitas o papa concitou cruzadas (guerras) para destruí-los. Aos seus guerreiros, o papa prometia honras, perdão completo de todos os pecados e riquezas no campo de batalha, aos que morressem, preciosa recompensa no céu (ver G. C., 117).
Esse tempo, de 1377 a 1417, foi marcado pela existência de três papas que se excomungavam mutuamente como falsos e apóstatas. O rei francês Felipe IV que já havia conseguido do Papa Clemente V a canonização de seu tio Luiz, como São Luiz, obrigou o papa a mudar sua sede para Avignon na França desde 1309 onde ficou até 1417. Assim houve em: Roma: Urbano VI – 1378-1389; Pisa – Alexandre V – 1409-1410, Bonifácio IX – 1389-1404; João XXIII – 1410-1417; Inocêncio VII – 1404-1406; Gregório XII – 1406-1417; Avignon: Clemente VII – 1378-1394; Bento XIII – 1394-1417.
A Igreja foi moralmente abalada, os hussitas espalharam a mensagem pela Europa, deles surgiu a igreja dos morávios que levaram os conhecimentos até na América do Norte, influenciaram John Wesley, o fundador do metodismo.