09/02/2018
500 anos da Reforma Protestante – 4
ARTIGO | Os cavaleiros da Ordem da Cruz de Cristo dedicaram-se às viagens marítimas sob as bênçãos e aprovação do Papa Martinho V, em 1418, com a bula “Sane Charissimus”, dando caráter de cruzada (guerra santa ou justa) ao empreendimento. As terras tomadas dos “infiéis” (não católicos) passariam à Ordem de Cristo, que teria tanto poder temporal, quanto civil e espiritual, cabendo-lhe a cobrança de impostos eclesiásticos. O papa favoreceu com muitas bulas essa ordem porque ela levava a cruz do evangelho e lhe arrecadava as riquezas. O papa concedeu-lhe ainda o monopólio da navegação à África a fim de organizar a ação da Igreja nessas terras, e delas receber as benesses.
O Historiador Hubermann escreveu: “A Igreja era tremendamente rica. Calcula-se que possuía entre um terço e metade de toda a terra – e não obstante, recusava-se a pagar os impostos ao governo nacional. Os reis necessitavam de dinheiro, parecia-lhes que a fortuna da Igreja, já então enorme e aumentando sempre, devia ser taxada para ajudar a pagar a administração do Estado” (Hist. da Riq. do Homem, p. 87). A Igreja era proprietária de enormes áreas de terra, que arrendava ou plantava por meio de escravos (Idem, 56). Os mosteiros absorviam enormes porções da riqueza nacional, afastavam muitos homens do serviço militar e das ocupações úteis solapando a vitalidade econômica do império, o que também colocava os governantes contra a Igreja (ver Jacques De Molay, os Templários e a Maçonaria, p. 54). A avidez papal por suprir sua volúpia e suas construções faraônicas, cada papa parecia pretender superar o anterior. Católicos começaram a comparar a vida nababesca papal e do alto clero com a vida simples de Jesus, causando-lhes revolta.
Outro motivo causador da Reforma Protestante foram as perseguições, as famosas guerras justas que o papado incentivava. Pensavam os cavaleiros que os padres tinham toda a verdade, o papa era o deus na terra, e, portanto deviam ensinar e forçar os hereges, (negros, índios, judeus, islamitas e todos os dissidentes) a aceitar o catolicismo ou deviam ser destruídos como instrumentos do Diabo. Os cavaleiros da Ordem eram religiosos incumbidos de catequizar e submeter os povos infiéis. Em 1054 formou-se a Igreja Ortodoxa por não se conformarem com a adoração de ídolos tridimensionais nem com a supremacia papal. Houve grupos como os valdenses, criado por Pedro Valdo (1170-1217), com o intuito de viver e ensinar só a Bíblia. Ele ensinava: “A Igreja desviou-se do Evangelho e é mister fazê-la voltar à sua simplicidade primitiva. à doutrina de Cristo e dos apóstolos, sem os decretos da Igreja, é suficiente à salvação. Não passa de fábula todo o ensino que não se possa provar pelo texto bíblico.” Os valdenses foram queimados vivos, atirados nos rochedos, esquartejados, empalados pelos exércitos papais, principalmente os dirigidos pelo Duque de Savoia, trucidaram os valdenses do Piemont na Itália.
Despontaram, dentre o clero, homens decididos a lutar contra os abusos do papado, de seus liderados e sequazes e contra algumas doutrinas espúrias adotadas do paganismo. John Wycliffe (1320-1384) doutor em teologia e filosofia, grande pregador católico criticou o clero devido à sua ignorância e por sua preocupação em acumular riquezas. Era poliglota estudioso da Bíblia e a fim de que o povo a conhecesse traduziu-a do latim (língua oficial da Igreja) para o inglês. Escreveu vários livros, dentre os quais a Summa Theologiae e de Civili Dominio e publicou suas 18 Teses em Oxford, em 1376. Ensinava nas universidads, pelas publicações e sermões que o Estado devia cuidar das coisas materiais e a Igreja das espirituais; denunciava o clero e a Igreja como enriquecidos, perdulários acostumados ao luxo e aos vícios, intrometidos nas questões governamentais.
Os líderes católicos acusaram-no de heresia e pediram sua prisão; Wycliffe só escapou da fogueira devido aos seus amigos da corte inglesa; os interesses da nobreza estavam de acordo com seus ensinos. A sede papal nesse tempo estava em Avinhão, França e a Inglaterra estavam em guerra (dos 100 anos). Os impostos eclesiais, o dinheiro das indulgências e ofertas iriam para o inimigo. Em 19/2/1377 Wycliffe teve de comparecer diante dos bispos que o acusaram de blasfêmia e heresia, mas foi salvo mais uma vez pelos quatro monges advogados, alguns membros da nobreza e pela multidão do povo em seu apoio.