17/11/2017
Protesto válido, mas inválido
A torcida do Palmeiras tem todo o direito de protestar contra o time. Levar banana, pamonha e pipoca é válido, sim. Quebrar o vidro do ônibus realmente acredito ter sido um acidente. Por mais que não se deva intimidar com pancadas em objeto algum se aqueles torcedores fossem realmente com a intenção de machucar alguém teriam tido um outro ‘modus operandi’. Validade do protesto reconhecida, com a devida ressalva aos estilhaços de vidro, vamos ao cerne da questão: jogador atua melhor após um evento como esse? O problema é apenas a atitude dos jogadores ou o mau resultado dentro de campo é fruto da combinação de vários outros fatores?
É cultural no nosso país individualizar a responsabilidade tanto por resultados positivos como negativos mesmo em um esporte coletivo como é o futebol. Se um time foi campeão temos a tendência de achar um ou dois heróis. E se perde também fazemos uma caça as bruxas para encontrar alguns poucos vilões. E a crítica vai sempre em aspectos comportamentais, xingando jogador de vagabundo, pipoqueiro, pamonha, etc.
Entendendo que o futebol é também emocional, mas atrelado ao técnico, tático e físico, tudo junto, ao mesmo tempo, vamos pegar então o caso do Palmeiras. O clube veio de um título brasileiro no ano passado. Um título perseguindo a mais de 20 anos. Saiu o técnico Cuca e chegou Eduardo Batista para 2017: ideias e conceitos de jogo completamente diferentes. Saia de cena a marcação individual, a transição ofensiva, o passe longo a velocidade e os cruzamentos a todo custo, para um jogo mais posicional, de passe curto e de marcação zonal. E até foram contratados jogadores que poderiam atender essas novas funções, como Felipe Mello, Guerra, Luan, etc.
Mas eis que, diante de alguns pequenos tropeços, normais para início de temporada e mudança de filosofia, e muito também por conta da falta de capital simbólico de Eduardo Baptista, e pela disponibilidade de Cuca, a diretoria palmeirense resolve retroceder e voltar ao que era em 2016. Sai Eduardo e volta Cuca. Todo o trabalho de mudança de conceito e comportamento de jogo é jogado no lixo. E há a tentativa de reconstruir o que deu certo no ano passado. Porém com novos jogadores, com as competições em pleno andamento e a consequente falta de treino, Cuca naufraga e também é demitido. O auxiliar Alberto Valentim assume a equipe e busca um jogo parecido com o que Eduardo tentou implantar no início da temporada.
Com essa mudança insana de modelo de jogo o problema é realmente a falta de atitude dos jogadores? Se a questão for então emocional, como pregam os torcedores, os maiores culpados não seriam os dirigentes que em nenhum momento mostraram convicção em uma ideia e foram com ela até o final? Quem é hoje titular no Palmeiras? Prass no Gol? Na direita, ora joga Jean ora Mike. Na esquerda, Egídio, Zé Roberto e Michel Bastos. No meio, Felipe Mello, Bruno Henrique, Thiago Santos. No ataque, Borja, Deyverson, Keno, Guerra…qual o time titular do Palmeiras? Como criar conjunto e relações dessa maneira?
Deixo todas essas interrogações para os torcedores tentarem entender que não é questão de preguiça. Futebol é muito mais complexo que isso.