01/04/2016
Carlos Gomes II
ARTIGO | No artigo último vimos que Nhô Tonico ganhou uma bolsa de estudos na Europa. A separação temporal não nos permite aquilatar a emoção desse jovem ao ver a materialização do seu velho sonho alimentado na faculdade pelos professores, colegas e amigos, o que lhe era, até então, impedido pelo seu parco recurso financeiro. Ao mesmo tempo este ato revela a sensibilidade do Imperador pela arte e pelos necessitados.
Antônio Carlos era muito estimado pelos seus familiares, docentes, e ganhou também a afeição de D. Pedro 2°. Diz um biógrafo que ao agradecer pela bolsa, o jovem aproveitou para pedir que o seu pai fosse nomeado para o cargo de mestre da Capela Imperial. Partiu para Milão em 8 de dezembro de 1863, onde estudou com o mestre Lauro Rossi, formando-se Maestro e Compositor em 1866.
Ele foi o primeiro brasileiro a se apresentar no famoso teatro milanês Alla Scala, em 19 de março de 1870, sua mais famosa e conhecida ópera “Il Guarany”, em 4 atos, baseada no romance do também famoso escritor José de Alencar e libreto de Antônio Scalvini. É uma O estilo é italiano inspirado em seu compositor mais admirado, Giuseppe Verdi alcançando tão grande sucesso que se expandiu por toda a Europa. No Brasil foi tema de abertura do programa radiofônico “A Voz do Brasil” por muitos anos. Em 1993 o grande Werner Herzog montou e apresentou nos teatros europeus a ópera “Il Guarany” tendo o tenor Plácido Domingos no papel de Peri. A ópera “Il Guarany” e algumas modinhas ficaram tão populares que eram tocadas nas ruas pelos realejos.
Em 1873 apresentou no mesmo teatro sua ópera “Fosca”, tida pela crítica italiana como a mais importante obra de Carlos Gomes; em 1891 tornou ao Alla Scala para apresentar “O Condor” com grande repercussão. O teatro lhe estava franqueado. Em 1874 apresentou a ópera “Salvator Rosa” e “Odálea” (1891); o vocal “Colombo” (1892). Compôs ainda: “Sea Minga” (1866); “Neila Luna”; (1867); “Os Mosqueteiros” (1871); “Maria Tudor” (1874; “Leona” (1882); “Ninon de Lencios” (1882); “Moema Morena” (1887); “Lo Schiavo” (1889); “O Condor” 1891) “Colombo” (1892), e muitas outras.
Em 1871 casou em Milão com sua ex colega de conservatório Adelina Peri, com quem teve a filha Ítala Maria no dia 7 de setembro de 1882, que foi sua biógrafa.
A partir de 1882 passou parte do tempo no Brasil e parte na Itália. No norte do Brasil apresentou execuções com grande êxito. Em 1883 dedicou-se à obra “Lo Schiavo”, com libreto de Rodolfo Paravicini, e em 27 de setembro de 1889 apresentou-o no teatro Lírico do Rio de Janeiro dedicando à Princesa Isabel que o patrocinara.
Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Carlos Gomes perdeu o patrocínio da família imperial. Em 1895 dirigiu “Il Guarany” no Teatro São Carlos, em Lisboa, Portugal, quando foi condecorado com a medalha de ouro pelo rei Carlos 1.
Doente e em dificuldades financeiras, compôs seu último trabalho, “Colombo”, oratório em quatro atos para coro e orquestra a que chamou poema vocal sinfônico e dedicou ao quarto centenário do descobrimento da América. A obra foi encenada em 1892 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.
No mesmo ano chegou ao Pará para ocupar a diretoria do Conservatório de Música de Belém, cargo criado pelo governador paraense Lauro Sodré para ajudá-lo. Os modernistas de 1922, principalmente os Drumont de Andrade, desprezaram Carlos Gomes; Oswald chegou a dizer: “Carlos Gomes é horrível”. Mas o público brasileiro e europeu sempre valorizaram suas óperas e modinhas românticas. Francisco Manuel comentou a respeito: “O que ele é, só a Deus e a si o deve”.
Antônio Carlos Gomes morreu de câncer em Belém, no dia 16 de setembro de 1896 e sepultado em Campinas a pedido de Campos Sales. Nessa cidade podemos ver no largo do Carmo seu mausoléu e perto dali o museu Carlos Gomes. Os amigos e políticos deram pensão aos dois filhos de Carlos Gomes até os 25 anos de idade.