Opinião

Irineu Evangelista de Souza

29/01/2016

Irineu Evangelista de Souza

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

ARTIGO | Há exatamente 202 anos, no dia em que escrevo, 28 de dezembro, João Evangelista de Ávila e Souza e D. Mariana de Jesus Carvalho de Souza e Silva, viam nascer seu filhinho Irineu. Natural de Arroio Grande, distrito de Jaguarão, terras gaúchas da fronteira, Rio Grande do Sul. Teve uma infância muito difícil. Sua vida serve de estímulo àqueles que desejam vencer os percalços e alcançar o ápice do sucesso. Logo aos cinco anos seu pai, criador de gado foi assassinado (1818), aos 8 anos (1821) sua mãe casou com João Jesus que não aceitou conviver com os filhos do primeiro casamento, assim Guilhermina, irmã mais velha (com 12 anos) foi obrigada a casar e Irineu foi morar com o tio Manuel J. de Carvalho em Rio Claro, S.P.. Neste ano foi alfabetizado. Irineu não teve paz, sua guarda foi transferida para outro tio José Batista de Carvalho, que o levou para o Rio de Janeiro. Seu tio o empregou como caixeiro num estabelecimento comercial, das sete horas às dez da noite, em troca de comida e moradia. Aos onze anos foi trabalhar no comércio de Antônio Pereira de Almeida onde vendia desde produtos agrícolas até escravos. Como era empregado de confiança e tornou-se guarda livros. Com a crise do império (1822-1831) o comércio foi à falência. Richard Carruthers assumiu o comércio e manteve Irineu como empregado por recomendação do patrão anterior. Aqui aprendeu a língua inglesa e contabilidade. Tornou-se gerente e sócio da empresa aos 23 anos. Segundo o historiador Miguel Milano, Irineu convivia com a família de Carruthers, sendo-lhe uma bênção, admirado e querido pela família que lhe dava comissões dos lucros. Carruthers voltou à Inglaterra depois de introduzir Irineu na Maçonaria e deixar sob seus cuidados a empresa de importação. Com perseverança, aproveitando os serões e feriados, aperfeiçoou o inglês, estudou siderurgia, navegação e outras áreas.
Em 1839 adquiriu uma chácara em Santa Teresa e mandou buscar sua mãe Mariana, já viúva, sua irmã Guilhermina e sua sobrinha Maria Joaquina de S. Machado (1825-1904). Dois anos depois (1841), casou-se com sua sobrinha, descrita por Luiz Waldvogel como formosa, inteligente, culta e viajada. Desse casamento nasceram 18 filhos, que devido à consanguinidade, sete foram natimortos, seis morreram antes dos 13 anos de idade, apenas cinco sobreviveram ao pai (1889).
Em 1840 Irineu viajou para a Inglaterra em busca de recursos. Essa viagem lhe serviu para conhecer “in loco” fundições de ferro e o empreendedor mundo capitalista do berço da Revolução Industrial. Convenceu-se da industrialização como o caminho para o Brasil e estimulado pela alta do café tornou-se industrial.
A empresa Carruthers desenvolveu-se em várias sucursais em vários países e dissolveu a sociedade. Irineu aproveitou “para instalar em Ponta d’Areia, em Niterói, uma fundição e estaleiro que prestaram ao país serviços valiosos, produzindo muitos produtos que antes vinham da Europa”, diz Luiz Waldvogel. No seu estaleiro foram construídos 72 navios em 11 anos, inclusive para o uso na guerra platina; aí também foi construído o maior e o mais rápido navio negreiro, o “Serpente”, que depois foi vendido à Marinha Brasileira. Disse Irineu: “a tenacidade que Deus implantou em minha alma era indomável”; embora isso lhe custasse um desfalque “na sua fortuna de mil contos”. Sua volúpia pelas atividades industriais e patrióticas não conhecia limites, e o estaleiro multiplicou seu patrimônio por 4 em apenas um ano, originando a construção naval brasileira. Chegou a ter mil empregados e na fundição construía caldeiras para máquinas a vapor e engenho de açúcar, guindastes, prensas, postes de iluminação, artilharia, tubos de ferro para canalização de rios e de gás da cidade do Rio de Janeiro. O estaleiro foi à falência devido a uma lei isentando das taxas aduaneiras a importação de navios. Irineu, o caixeiro, tornou-se o grande empreendedor industrial e banqueiro, um dos homens mais ricos do Brasil, mas teve uma notável característica humanitária, pois se dedicou a ajudar seus conterrâneos guerrilheiros da Farroupilha a escapar da prisão no Rio de Janeiro, amparou sua mãe e irmã quando mais necessitaram. Um grande homem sempre tem alguma coisa da natureza divina.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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