Opinião

Traços do caráter: domínio próprio

13/03/2015

Traços do caráter: domínio próprio

ARTIGO | Leondenis Vendramim
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

“Melhor é o longânimo do que o valente, o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Isto é da lavra do sábio Salomão, inspirado por Deus, para o ensino daqueles que querem ser vitoriosos. Nem sempre é bom “levar vantagem em tudo”. Os maiores derrotados são os impetuosos e tempestuativo. Nenhum homem é livre se é dominado por suas paixões, antes, é o pior escravo de suas inconsequentes e precipitadas atitudes. Aliás, precipitado etimologicamente, significa cair de cabeça para baixo. Cuidado! Numa contenda ou debate vence mais fácil quem raciocina para responder com calma.

Numa palestra que fiz numa empresa, um dos sócios e gerente de produção disse-me que era “pavio curto”, gritava e xingava ao ver o erro de um funcionário, depois se arrependia. “Não consigo”, disse. “Consegue”. Respondi. Escreveu Pitágoras: “Aquele que é escravo de suas paixões e instintos, nega sua liberdade; não é livre nem de fato nem de direito”. Pais, professores ou superintendentes, colocam-se como representantes de Deus, embaixadores do reino de paz, mansidão e boas maneiras. Não há motivo para falar alto, para insultos e palavrões.

Não gostamos de “levar desaforos para casa”, contudo, na maioria dos casos, vence aquele que se cala diante dos arroubos. “A resposta branda desvia o furor” diz a Bíblia, Claro que não é fácil. Nossa natureza é de aspereza, diante das ofensas, gritamos mais alto, mais ríspido do que o oponente, esquecendo que, Jesus Cristo ensinou a vencer o mal com o bem.

Não é fácil, não é fácil! O domínio próprio requer um treinamento que poucos estão dispostos a enfrentar. A história nos conta que os espartanos eram treinados desde a infância a dormir em camas duras, comer uma sopa preta intragável e a rigorosos exercícios físicos. Eram conhecidos como soldados férreos e por isso venceram as batalhas das Termópilas, quando outros fariam uma retirada “honrosa”, ou fuga justificável. Diz Thomas Kempis “Nenhum conflito é tão severo como o daquele que luta para dominar o eu”.

Diz o laureado escritor S. Júlio Schwantes: “O mais poderoso conquistador é aquele que conquista a si mesmo. Domínio próprio não é nenhuma abstração. Envolve o domínio do apetite, do gênio, da indolência, da língua, de todos os pendores, enfim, inatos ou adquiridos. Significa a subordinação da natureza inferior à superior, dos instintos à razão, dos impulsos cegos à luz da moral. Exige o reconhecimento de uma hierarquia de valores em que os interesses eternos se sobrepõem aos temporais, os espirituais aos materiais, os da sociedade aos do indivíduo”. Colunas do Caráter, p 40. Como diz o filósofo Kant tal pessoa “torna-se um padrão universal. O indivíduo não faz porque a lei o obriga, ele se identifica com a lei, não faz o erro porque não pode, mas porque não quer. Sua vontade deixa de ser caprichosa ou impulsiva para ser razoável, um reflexo da razão divina”.

Para Schwantes “O domínio próprio é uma conquista diária, em que as pequenas vitórias de hoje preparam para as vitórias maiores de amanhã. Pequenas renúncias do apetite, pequenos sacrifícios do comodismo são os degraus da escada íngreme que leva ao domínio do próprio eu. É uma marcha ascensional que não admite pausas acomodatícias sob pena de retrocesso. Toda explosão de ira, toda condescendência com os excessos da mesa, toda tolerância com a preguiça ou a maledicência, diminui o autodomínio”. Colunas do Caráter, p. 40.

Diz uma lenda que uma águia foi criada num galinheiro dormindo em poleiros sujos até que num certo dia levantou voo até às mais altaneiras montanhas Ali encontrou ambiente propício para convivência de águias. Assim, quem deseja viver em ambiente pacífico, de gentilezas, progressista, abençoado e de pureza precisa enfrentar a pressão do ar e subir como a águia combatendo seus próprios hábitos e indolência. Tão certo como são as lutas que terá para vencer o eu, serão as revigorantes vitórias!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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