24/11/2014
Água distribuída em Rafard pode estar imprópria para beber, aponta relatório
Após dois surtos de diarreia, órgão da Secretaria de Estado da Saúde constatou irregularidades na água da Creche Enzo e na Estação de Tratamento de Esgoto Central
RAFARD – Na última sessão ordinária, realizada na noite de terça-feira, 11, os vereadores aprovaram por unanimidade requerimento do vereador Marcelo Frederico (PTB), solicitando informações sobre a possível contaminação da água fornecida aos munícipes. Ele disse que os questionamentos se baseavam em um relatório feito pela Secretaria de Estado da Saúde sobre a investigação do surto de diarreias na cidade.
Em uso da tribuna, o parlamentar afirmou que o prefeito César Moreira (PMDB), que estava presente no plenário, estaria fornecendo água imprópria à população. “A água de Rafard que o senhor fornece ao público está imprópria. Não sei se é de conhecimento do senhor.” No documento, ele disse ainda que o caminhão-pipa da prefeitura também estaria inadequado para o transporte de água potável.
Após notificar dois surtos de diarreia, em maio e agosto, a Prefeitura de Rafard acionou o Grupo de Vigilância Epidemiológica XX, de Piracicaba, órgão da Secretaria de Estado da Saúde, para que investigasse as causas. De acordo com o relatório, datado de 3 de outubro, dos 35 casos registrados, 21 envolvem crianças e funcionários da Creche Municipal Enzo Henrique Vieira. As análises das amostras clínicas enviadas para o Instituto Adolfo Lutz (IAL) Rio Claro foram positivas para Cryptosporidium, Giardia (ambos parasitas), Norovírus e Rotavírus.
No local, foram identificados coliformes totais e Escherichia coli (gêneros diversos de bactéria bacilar) no cavalete por onde entra água na creche, no bebedouro e na caixa d’água da cozinha. Em visita à instituição, a equipe técnica constatou outras 17 irregularidades, entre elas: higienização inadequada de verduras e não uso de luvas descartáveis pelas pajens durante o manuseio de alimentos.
A análise da água apontou ainda “a não conformidade no cavalete, ou seja, na entrada da creche, indicando que a qualidade da água de abastecimento público não está adequada”. Para averiguar a suspeita, os técnicos seguiram até a Estação de Tratamento de Água Central (ETA Central) e, lá, encontraram mais dez anormalidades relacionadas à falta de higiene e à ausência de registros de limpeza dos reservatórios.
De acordo com a investigação, há entulho, sucata e lixo ao entorno da área da bomba por onde a água é retirada, por exemplo. No relatório também consta que o caminhão-pipa, que fica estacionado no local, não tem condições de distribuir água potável, visto que a caixa, a mangueira e a bomba do veículo estão “extremamente enferrujadas”.
O Grupo de Vigilância Epidemiológica fez 28 recomendações à prefeitura, para por fim às contaminações. As medidas incluem coleta de material das crianças infectadas para definir a espécie de Cryptosporidium e detectar outros parasitas, coleta de amostras de moradores em geral que apresentem sintomas de diarreia e envio de dez amostras semanais (às terças e quintas-feiras) ao IAL Rio Claro.
Procurada pelo jornal O Semanário, a Prefeitura de Rafard informou que as recomendações que constam no relatório estão em andamento. Porém, disse que a investigação não foi completamente finalizada. “A Secretaria de Estado da Saúde deverá fazer uma nova visita ao município.” Ainda de acordo com o Executivo, o caminhão–pipa não é utilizado para abastecer as casas com água potável.
A prefeitura também negou que a água utilizada para consumo humano esteja imprópria. “A análise técnica da água que abastece o município é feita por empresa especializada semanalmente. Os relatórios são compilados e expedidos mensalmente ao município por meio de documento técnico minucioso. Documentos esses que se encontram à disposição no Departamento de Água de Rafard”, comunicou.
Além dessa análise, a prefeitura disse contar ainda com um relatório feito a cada quatro meses pela Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Ares-PCJ), cuja missão é “regular e fiscalizar os serviços públicos de saneamento básico nos municípios associados, com base em normas e indicadores que garantam sua excelência e contribuam para o equilíbrio nas relações entre usuários, prestadores de serviços e poder público”.
Tráfego de caminhões
Na mesma sessão, Marcelo Frederico voltou a reclamar do tráfego de caminhões pesados e que ultrapassam o limite de altura na área urbana de Rafard. De acordo com o vereador, naquela manhã um caminhão rompeu diversos fios de telefone ao virar à esquerda no cruzamento entre as ruas Capitão José Duarte Nunes e Nossa Senhora de Lourdes. Segundo testemunhas, o caminhoneiro percebeu o ocorrido e fugiu.
“Hoje cedo, eu indo trabalhar, já me deparei com o problema novamente. Estavam lá os fios no chão. A população não aguenta mais. Os comércios dependem de telefone e as pessoas também. Peço, então, senhor prefeito, que o fiscal ou o Executivo comece a trabalhar mais”, criticou.
Frederico também comentou o episódio em sua página no Facebook: “Esperamos serem tomadas atitudes com relação ao caso já explanado e cobrado por mim em sessões. Se tivesse um trabalho adequado e pulso firme para exigir que esses caminhões tomem caminhos alternativos, isso não aconteceria. Esperamos que esses tráfegos não causem maiores acidentes ao município.”
Reeducação do trânsito
Na mesma linha, o vereador aproveitou para anunciar uma novidade: segundo Marcelo Frederico, que conversou naquele dia com o diretor da Guarda Municipal, Fernando Novaes Henrique, o convênio com a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp), que tornará possível reeducar e multar os motoristas de Rafard, está prestes a ser firmado.
“Capaz que fique pronto pra janeiro, daí já começa a fazer a reeducação no trânsito: carros parados em praça, faixa amarela e de deficiente, espaço reservado para idosos. E vai ter um tempo de uns dois ou três meses de reeducação pra eles [agentes de trânsito e guardas] começarem a autuar. Isso já é um grande passo para Rafard”, destacou.
Com a assinatura do convênio, a Divisão de Trânsito (Ditran) poderá multar os imprudentes por meio do Sistema de Emissão e Controle de Multas Municipais de Trânsito (Secomm). Enquanto isso, casos como o que acontece diariamente na Escola Municipal Professor Luis Grellet, por exemplo, continuarão a ocorrer. “Todos os dias uma mulher estaciona na única vaga de deficiente que existe em frente à escola”, conta uma comerciante de 37 anos, que não quer ser identificada.
Segundo ela, a motorista não respeita a sinalização da vaga. “As outras mães ficam revoltadas também, mas pelo jeito não tem o que fazer”, lamenta. De acordo com o chefe do Ditran, Anderson Henrique da Silva, enquanto o sistema de multas não for instalado na cidade, cabe aos agentes de trânsito e aos guardas municipais apenas agir de maneira educativa, conscientizando a população.
