Interessante como nos dias de hoje valorizamos as exceções.
Sabe por quê? Porque ser honesto é exceção, ser corajoso é exceção, enfim, uma mudança de valores descarada que enoja qualquer cidadão de bem. Deveria ser comum, parte do caráter de cada um, ser honesto e corajoso, especialmente dos homens públicos.
Lendo as páginas amarelas de Veja, Edição de 4 de abril, contempla-se as palavras do Senador Pedro Simon (PMDB-RS), uma dessas figuras públicas de rara exceção, que dá o tapa, não esconde a mão, tece duras críticas a quem de direito, mas não se esconde atrás de ninguém, não transfere a terceiros a responsabilidade de suas palavras. Esse é um dos poucos homens de credibilidade no cenário político brasileiro. Esse deveria ser um dos ícones norteadores dos homens públicos. Mas ele é exceção.
E o povo brasileiro precisa de exceção, para confiar na busca de caminhos mais promissores, na erradicação da corrupção, para seguir de exemplo.
Simon evoca os jovens a voltarem-se aos idos dos anos 80 e 90, quando da luta pelas Diretas Já e Caras Pintadas no Brasil inteiro pelo Impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (na época PRN). Ele diz que está vendo mudanças nesse país e agora chama os jovens a participarem da III Marcha Contra a Corrupção, que acontece em todo o Brasil neste sábado, 21. As pessoas estão sendo convocadas pelas redes sociais, que, se por um lado pode trazer riscos aos usuários, por outro lado, consegue levantar a massa e podemos ver novamente a multidão nas ruas questionando, manifestando sua dor e pesar por tantos bilhões de reais indo pelo ralo da corrupção. Afinal, são R$ 80 bilhões todos os anos desviados para o bolso de gente suja como Carlinhos Cachoeira, um bicheiro que banca a campanha de muito político nesse país e que depois arma esquemas de fraudes e desvios bilionários de dinheiro público, envolvendo gente que o Brasil não imaginava fazer parte de esquema tão sujo e criminoso.
Mas o que se pode esperar de um país, formado por partidos que se vendem por qualquer preço e que depois de convocada uma CPI para analisar mais esse escândalo de corrupção, que ganha braços até ali, em Piracicaba e sei lá onde mais, convoca o ex-prefeito Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB, para participar das investigações? O Fernando Collor? Do impeachment? É, o próprio, cujas contas milionárias eram pagas com dinheiro público, tudo arranjado pelo seu tesoureiro, PC Farias. Refrescou a memória? Pois é, dizem que brasileiro tem memória curta.
Enfim, vamos falar de Rafard e de Capivari.
Homens públicos, como o nome diz, estão à mercê de críticas, de fatos e de boatos.
Mas o verdadeiro homem público, aquele da exceção, assume suas virtudes sem modéstia, assume seus defeitos e encara as consequências de suas atitudes. Levanta uma bandeira em defesa dos menos favorecidos e aguenta o vendaval que vem depois, confiando que fez o que sua consciência determinou. Não segue os fracos pelo desenrolar da onda, mas segue os raros homens da historia, de quem todos nós precisamos.
Perguntamos que papel é esse que se presta a autoridade máxima de um município, de constranger uma figura pública, em seu local de trabalho para repreender suas palavras ditas na imprensa? Ainda se tivesse dito bobagem. Mas quer cumprir o seu papel de fiscal do povo, averiguar o que houve com a administração pública que não deu o dissídio aos servidores públicos no ano de 2011. O vereador é representante do povo, e o povo quer saber. O que está havendo com a cidade, onde tudo está abandonado? É tanto buraco, é falta de investimento, é falta de respostas.
E essa discussão sobre a Santa Casa? O que é isso? Tem um ditado que diz muito bem: “cachorro que tem muito dono morre de fome”. Fica todo mundo se digladiando, criticando, mas cadê a ação? Passaram-se 3 anos e meio e a administração pública ficou dizendo que a Santa Casa é uma instituição particular e não fez nada de concreto para resolver o problema. A UTI foi fechada e ninguém fez nada. Na hora de falar, nossos políticos estufam o peito, mas na hora de agir, saem de fininho, ou então, mudam de opinião no dia seguinte. A Santa Casa é apenas um problema. Falta infraestrutura e sobra tecnologia. Tem radar, paga-se muito pelo aluguel dessas máquinas, arrecada-se muito com multas, mas não há um olhar para um semáforo desligado há meses. Não há um olhar para ruas e avenidas novamente esburacadas.
E a população tem que cobrar. Mas cadê os representantes da sociedade para participar da audiência pública que discutiu a importância do plano diretor para Rafard? Não tinha quase ninguém. Quem vai perguntar quanto vai custar? E por que só agora, em final de mandato? Não precisa de licitação para contratar a empresa que vai fazer esse plano diretor? Como é que é isso, aquilo? Tem que saber.
Parodiando o Velho Guerreiro, numa de suas frases mais famosas: “Quem não se comunica se trumbica”. E o povo tá se “trumbicando”, se é que o Houaiss, o Aurélio e até o Pasquale nos permitem esses neologismos.
Por outro lado, a imprensa tem o papel fundamental de informar, de levar à população o que está acontecendo. A liberdade de expressão é garantia constitucional. Calar a imprensa é coisa do passado, ficou lá na Ditadura Militar. E a lei do escapismo já foi revogada, se muitos não compreendem. É por isso que a imprensa precisa sempre ter suas entrevistas gravadas, para servir como prova que ela não inventa fatos. Eles acontecem e a imprensa noticia. E não é papel de nenhum meio de comunicação enaltecer trabalho de político. Para isso existem propagandas pagas, isso é publicidade. São duas coisas bem distintas: notícia e publicidade.
Está na hora de sairmos desse provincianismo e saltarmos em direção ao futuro. O analfabetismo moral tem que acabar. Os políticos foram eleitos pelo povo para trabalhar pelo povo e para o povo. Fazer o dever de casa, cumprir a obrigação de elaborar projetos de lei, correr atrás de verbas públicas, elaborar políticas públicas para o desenvolvimento da cidade são características inerentes do político de exceção, infelizmente.
E mais: esse político de exceção não precisa de publicidade porque os seus feitos falam por si só. Eles não precisam de publicidade o tempo todo para dizer ao povo o que estão fazendo. Eles fazem.
Então, a hora é esta: estamos em ano eleitoral, quando tudo que se diz entende-se mal. O eleitor precisa se armar e garimpar os políticos de exceção. Queremos ainda acreditar que eles existem. Mas se o Pedro Simon estiver certo: “os bons homens se foram… Se esses tivessem ficado e outros tivessem morrido, o Brasil seria diferente”.