Espaço do leitor | Por Diego Moura*
É maravilhosa esta iniciativa do jornal O Semanário que permite aos leitores destas páginas argumentarem temas de suas edições. Claro, hoje não poderia ser diferente. Afinal de contas, vivemos em uma democracia mais sólida dia após dia. Com seus problemas, evidentemente, mas que não se comparam aos longos anos de terror, censura e barbárie comandados pelo Estado que tivemos durante a ditadura civil-militar inaugurada em 1964.
Sei que ainda há quem defenda a dita-cuja, mas, se tudo continuar correndo bem, as atrocidades e as tais “aulas de moral e cívica”, das quais muitos são saudosos, não voltarão mais. Nosso muito obrigado às mulheres e homens que deram a vida e a juventude combatendo os militares sanguinários. É nosso dever lembrar sempre deste golpe (especialmente em 2014, quando completa cinquenta anos). Não esquecer para não repetir.
Apesar de gostar desse tema – a partir do qual produzi com meu grupo um livro-reportagem sobre mulheres torturadas na ditadura como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Mackenzie, em São Paulo – hoje não falarei mais sobre essas questões. Mas sobre outras que fazem referência a respeito, Língua Portuguesa e falta de humildade.
Na edição passada, um dos textos publicados apontava o uso supostamente incorreto da palavra “exímio” numa das reportagens deste jornal. O autor foi tão enfático em afirmar o erro que fiquei encafifado. Como jornalista e amante da Língua Portuguesa que sou, fui atrás de mais informações sobre o assunto. Vamos a alguns esclarecimentos.
Sim, o vocábulo “exímio” pode ser usado para caracterizar objetos. Portanto o carrinho produzido por seu João Corrêa é um “exímio carro de madeira”. Simples assim. Segundo Fernanda Mazza, mestre em Comunicação e Letras, não é comum usar o termo dessa maneira, mas é perfeitamente aceitável e não está errado. Exímio vem do latim eximius, que significa, de acordo com o Dicionário do Latim Essencial, “posto em destaque, exímio, excelente, superior, notável, privilegiado”.
Professor Pasquale Cipro Neto, outro ás do idioma e amplamente reconhecido por seu conhecimento nas questões linguísticas, considera o emprego do termo nessa condição como recurso estilístico. Dessa forma, quem escorregou não foi o repórter d’O Semanário, mas o articulista, que tachou como erro o uso da palavra ao julgar precipitadamente e sem pesquisa abrangente.
A utilização do termo “exímio” referindo-se a algo em vez de a alguém está presente em descrições de obras literárias, pesquisas acadêmicas e até – vejam vocês – em matérias de jornais. Lê-se em um texto da Folha de S. Paulo o repórter referir-se a uma pintura como “exímio retrato”.
Esse episódio nos faz refletir e, de certa forma, pede para que todos os dias, quando levantemos de nossas camas e nos entreguemos às obrigações do dia a dia, vistamos o manto da humildade. De modo que possamos semear uma convivência saudável, que traga apenas boas coisas para nosso entorno.
Devemos aceitar que não sabemos tudo e que não somos perfeitos. E o mais importante: precisamos estar fundamentados quando realizarmos qualquer tipo de crítica e certos de que ao mostrar supostos erros gramaticais do outro, por exemplo, saibamos usar nós mesmos o idioma: não errar vírgulas e entender de ponto e vírgula, acentuar corretamente as palavras, não incorrer em expressões dúbias e por aí vai.
Devemos ser exímios escritores com um exímio conhecimento, em especial quando publicarmos críticas em um jornal, pois escrever para muitos é um exercício não só de Língua Portuguesa, mas também de responsabilidade.
*Diego Moura é jornalista