25/06/2014
As conquistas e as dificuldades do primeiro ano de Moreira
“Muitas coisas vão acontecer em 2014”, afirma prefeito
Até o final do ano passado, Rafard tinha 8.952 habitantes, apenas 340 pessoas a mais do que em 2010, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São exatos 121,645 quilômetros quadrados de área territorial. O problema é que 85% dessas terras pertencem à Raízen, usina originária de uma join venture (associação de empresas) entre Cosan e Shell.
Em entrevista exclusiva, o prefeito Antônio César Rodrigues Moreira, que assumiu a Prefeitura Municipal há um ano, revela o “outro lado da situação”, ou seja, a luta de uma administração para atender os cidadãos em todos os setores e ainda ter que fazer “sobrar” verba para auxiliar outros governos.
Para Moreira, a cidade tem atrativos que podem e devem ser utilizados em projetos turísticos. Em comparação, ele explica que faltam parcerias concretas, as quais “deem as mãos” e sigam em busca de recursos perante o Estado, e este, por sua vez, abra enfim as portas para Rafard.
Jornal O Semanário Regional: Em 2013, o que foi cumprido do prometido no plano de governo? Caso tenha alguma conquista importante que não constava no plano, cite, por favor.
Antônio César Rodrigues Moreira: 2013 foi um ano difícil, porque nós pegamos um orçamento que vinha do outro prefeito. Mesmo assim, conseguimos cumprir mais ou menos 50% da meta para os quatro anos. Inclusive tem uma indústria “grande” vindo para a cidade que não constava no plano de governo, mas que está acontecendo.
O Semanário: Quais foram as principais dificuldades no primeiro ano de administração?
Moreira: Encontramos muitos veículos em péssimas condições de estado e conservação. Só de ônibus escolar nós reformamos sete. Além disso, ficaram muitos precatórios para pagarmos, assim como dívidas com a cooperativa dos médicos e com as santas casas de Rio das Pedras e Capivari. Hoje, só temos os precatórios para acabarmos de pagar e algumas coisas que ficaram da administração anterior.
Em relação aos precatórios, são mais de R$ 700 mil. Para a cooperativa dos médicos, foram mais de R$ 100 mil. E R$ 1,65 milhões nós estamos negociando para ver se conseguimos pagar, que são as dívidas trabalhistas de salários que o prefeito anterior não deu o reajuste de inflação na época da data base.
O Semanário: O que a população pode esperar do seu governo em 2014?
Moreira: Nossa meta é começar a construir as casas populares e já planejar a construção de mais. Temos recapes para fazer em várias ruas da cidade; vamos construir um barracão no Bairro Sete Fogões [Centro de Atividades Assistenciais], para atender as pessoas de lá; e para cá iremos fazer a licitação para darmos início à construção de mais uma creche. Este ano também construiremos a farmácia municipal. Já temos a verba conquistada. Enfim, muitas coisas vão acontecer em 2014.
O Semanário: Quando serão construídas as casas populares?
Moreira: Ainda neste primeiro semestre. E tem mais uma área onde nós pretendemos construir – se não for esse ano, no ano que vem – mais casas populares, um grupo amplo. Para isso, já estamos acertando com os empresários que estão interessados em fazer as casas.
O Semanário: Em 2012, a prefeitura amargurava um rombo de cerca de R$ 1 milhão em dívidas de contribuintes com tarifas de água e esgoto. Após o reajuste da tarifa e a instauração do Refis, quais são os números atuais?
Moreira: Nós tínhamos um déficit de R$ 70 a 80 mil por mês, devido ao prejuízo com a água. Com o aumento da tarifa e ao regularizar todas as obras que estavam paradas por não terem recursos, Rafard passou a trabalhar quase que para cobrir os gastos. Ainda teremos um déficit de R$ 70 mil por ano, sendo que antes era por mês. Isso porque nós estamos investindo na recuperação de poços artesianos e bombas.
É provável que já tenhamos gastado, só este ano, R$ 300 mil, e ainda estamos fazendo as outorgas dos poços para que possamos conquistar recursos. Sem acertar tudo, a Agência das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Agência PCJ) não libera a verba. E se nós não acertarmos todas as pendências que temos em relação à água e aos resíduos sólidos, logo também não conseguiremos mais as verbas que a cidade precisa.
Isso ficou parado durante muitos anos. De toda a região, Rafard é a cidade mais atrasada nessa área. Por isso, também vamos investir no tratamento do esgoto. Já conseguimos o terreno e já existe um projeto em cima dele. Só precisamos agilizar a documentação para iniciarmos o tratamento.
O Semanário: Em 2012, 43% da população estava inadimplente. Depois caiu para 10%. Qual a porcentagem atual?
Moreira: Continua 10%. Nós fizemos um levantamento e descobrimos que esses 10% são pessoas sem condições de pagar, porque tem deficiente na casa ou algum outro problema. Então, por meio da assistente social, nós isentamos algumas pessoas. Outras, quando ficam três meses sem pagar, nós mandamos cortar a água. Mas a inadimplência está baixa.
O Semanário: Então o setor fechou 2013 com déficit?
Moreira: Sim. De R$ 70 mil, devido à quantidade de investimentos que nós fizemos. Só de bombas, nós trocamos cinco. E ainda trocamos as bombas de recalque para melhorarmos o abastecimento, tanto que zeramos a falta de água na cidade. Só falta quando cai a energia ou quando dá problema em algum cano e precisamos fazer o reparo.
Na véspera do dia de ano, de madrugada, a energia caiu, ocasionando na interrupção do abastecimento de água. Então, o fiscal e eu corremos atrás da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) pra resolvermos o problema, que encontrou o lugar e normalizou a situação. Isso acontece muito, porque a parte elétrica de Rafard está com falta de transformadores, logo, dá aquele pico de energia e cai. E onde desliga automaticamente, a bomba pode até queimar.
Mas já estamos conversando com a CPFL para resolvermos esse problema também. Nós mesmos estamos indicando os lugares que precisam de novos transformadores.
O Semanário: O que foi feito pelo governo no ano anterior e o que se pode esperar para 2014 no que diz respeito à saúde, esporte, cultura e lazer, meio ambiente e educação?
Moreira: Na saúde, além de estarmos para iniciar a construção da farmácia municipal, fizemos um concurso e chamamos dez médicos. O Brasil inteiro tem problemas com médicos. Muitos deles a gente chama, mas não vem, não aceitam trabalhar. Portanto, dobramos o salário de todos os médicos. Agora não é mais por causa de salário que eles não virão. Não se trata de “pouco caso” da administração. Até porque, quando surge médico que quer trabalhar nós contratamos. Acontece que não há mais médicos na região, principalmente pediatras.
Aqui também não falta remédio. Eu acho que de todos os municípios da nossa região, Rafard é o único que atende em tudo o cidadão. Algumas reclamações existem, mas é porque eles não conhecem o outro lado. Se eles conhecessem o outro lado da situação, perceberiam que a nossa cidade atende muito bem. O que vem de gente dos bairros Moreto, Padovani e Morada do Sol para serem atendidos aqui [ex.: exames preventivos, como hipertensão] é impressionante. Nós temos 17 mil fichas, sendo que Rafard não tem nem nove mil habitantes. Nisso você vê quanta gente de Capivari nós atendemos.
Nós repassamos para o Pronto Socorro [ex.: acidentes ou algum tipo de mal estar à noite] da Santa Casa de Capivari R$ 17 mil por mês. Se fosse ver, Rafard precisaria cobrar de Capivari todos os cidadãos que vem aqui. A Santa Casa de lá é referência de Rafard, Mombuca e Elias Fausto. Então, parte do dinheiro do SUS [ex.: internações, exames de mamografia] que deveria vir para Rafard é repassado para a Santa Casa.
Além disso, estamos ajudando com mais R$ 15 mil por mês a reabrir a UTI. Sabe quantas pessoas daqui eles atendem lá por mês? Em torno de 180 pessoas. É um baixo atendimento. Isso tudo porque a UTI ainda não está aberta, ou seja, eles não estão cumprindo com o contrato.
Sendo que para ter essa cooperação entre os municípios, conversei com o prefeito de Capivari Rodrigo Proença no início da administração dele. Tanto é que antes o repasse para o pronto socorro era de R$ 12 mil. Depois passou a ser de R$ 17 mil. Se eles não cumprirem com o acordo, seremos obrigados a parar de pagar, afinal, não vamos pagar por algo que não usamos. Precisa ver porque a Santa Casa não funciona.
Na parte de saúde bucal, não tínhamos tratamento de canal e nem prótese. Os rafardenses precisavam ir à Piracicaba para se consultarem lá. Então nós reformamos o Centro Odontológico (no ano passado), aumentamos os atendimentos e contratamos mais dentistas. Agora, canal, pequenas próteses e dentaduras podem ser feitos aqui.
Conquistamos novos veículos para o município: uma ambulância, um carro e uma pá carregadeira. Agora vão vir também mais dois caminhões e uma moto niveladora. Até eu sair tenho certeza que a frota da cidade estará inteira nova. O caminhão mais novo que temos, hoje, em Rafard tem 14 anos. Nem peça encontra mais.
Na área do esporte, fazemos torneios, viajamos para outras localidades para disputar. Tem a parte do society, que todo ano faz futebol de areia. Mas aqui a gente não pensa em ganhar taça ou título – embora tenhamos ganhado muitos títulos. Eu acho que o interessante para Rafard é a inclusão de mais jovens no esporte, para ver se conseguimos tirar esses jovens da rua. Ganhar não importa. O importante é mais gente participar.
Cultura é um problema sério em Rafard. Ainda que sejamos referência com as oficinas de dança, balé, violão e coral; miss, torneio de pipas, apresentações e incentivo à terceira idade, temos muito que avançar nesse sentido. Na cidade existe a Fazenda São Bernardo, onde dá para montar um hotel fazenda e trazer milhares de turistas. Temos a casa da Tarsila do Amaral, com muitas coisas da Tarsila lá ainda. Porém, precisamos de investimento. Não há estrutura para isso.
A Raízen, que é dona das terras da região [85% das terras de Rafard], se propôs a entrar em contato com uma assistente social para cuidar dessa parte e trabalhar junto com a gente num projeto de turismo na região. Vieram três senhoras entrevistar a todos aqui na prefeitura. Agora, o Ivênio, que é o diretor de Cultura, Esporte e Turismo, está correndo atrás. Mas ainda é tudo muito novo. Acredito que Rafard só vai começar a melhorar quando conseguirmos a verba que é destina à cultura. No momento, o município não tem verba para financiar a cultura.
Quando se trata de turismo, a gente “esbarra” em terras da usina. Então é preciso construir uma parceria forte com empresários e a usina para que a verba venha. Sozinho Rafard não consegue recurso.
No setor de meio ambiente, a Camila está com um projeto em andamento, que é o da coleta seletiva, além do plano de saneamento, que está previsto para ser finalizado em agosto. Isso vai abrir portas para Rafard, que até então estão fechadas no Estado. Para que isso começasse a ser revertido, logo que assumimos a prefeitura conversamos com a PCJ, que está nos ajudando com esse plano.
Agora Rafard vai começar a engatinhar. Faz 30 dias, registramos uma área para tratamento de esgoto. Porque estava numa área que não dava para construir. Então precisou ser transferido para outro lugar.
A educação de Rafard é boa. A Escola Estadual Professora Jeni Apprilante ganhou o prêmio de terceira melhor escola do estado. As municipais também estão indo muito bem. Mexemos na infraestrutura das escolas, algo que não era feito há muito tempo. Reformamos duas. E estamos buscando verba para cobrir as quadras.
A creche Enzo Henrique Vieira também estava com um problema sério. Ela foi inaugura, mas não estava pronta. Nós tivemos que investir dinheiro e mão de obra de Rafard (mais de R$ 50 mil) e só então abrimos as portas da creche oficialmente. Ao mesmo tempo, todos os ônibus escolares passaram por reformas.
Nós temos também formação para professores e merendeiras. No ano passado, contratamos merendeiras e pajens, por meio de um concurso. Chamamos todas que passaram. Demos abono a todos os professores, uma reivindicação antiga deles, e aumentamos os salários dos funcionários, depois de muito tempo sem aumentar acima da inflação.
Para 2014, continuaremos com as apostilas do Sistema Anglo de Ensino, pois conseguimos derrubar o preço da licitação deles e ainda adquirimos mais dois cursos: inglês e artes.
O Semanário: Pelo que tudo indica, devido à reclamação da população, as lombadas da Avenida São Bernardo estão fora dos padrões. O que a prefeitura pensa em fazer a respeito?
Moreira: Quarta-feira, 22, virá a massa asfáltica. Já era para ter vindo na semana passada, mas choveu em Piracicaba, então devem ter pensado que estava chovendo aqui também, por isso não vieram. Iremos adequar as quatro lombadas, fazê-las mais “espalhadas” para acabar com o problema.
No almoxarifado tinha um gabarito [molde] que fazia a lombada na altura certa. Mas não o encontramos. Não sei se alguém o perdeu ou se o jogaram fora. Com isso, fizeram as lombadas sem o gabarito, sem base, deixando-as muito mais altas.