Editorial

Editorial – O fio da esperança

Nessa semana, Rafard teve seu primeiro registro de suicídio e Capivari o primeiro homicídio. Tristes fatos que noticiamos com o pesar da vida, com a carga diária de que estamos fadados a isso.
No caso do homicídio, um jovem de 23 anos que escolheu um caminho de duras penas a se seguir. Ninguém aqui o julga, mas lamentamos pelo final da história. Talvez fosse o acúmulo de experiências e pré-disposições que acabaram modificando um futuro promissor, pois cremos que todos possuem o potencial para lutar e seguir com a maturidade e honradez, mas do jeito que aconteceu a vida se tornou uma efêmera lembrança noticiada na correria diária de nosso egoísmo.
Já esse acúmulo de coisas que levaram o jovem a fazer essa escolha para o tráfico é claramente culpa de uma sociedade omissa, que se cala diante do opressor e deixa ser conduzida por imposições domesticadoras. Explico. Quem cala, consente. A nossa educação não é só dada pelos pais, é também gerenciada pelo meio em que vivemos, na sociedade onde somos criados. Crianças seguem exemplos, e se a latente propaganda do consumo e do que é errado ficar martelando a todo instante na percepção dela, certamente seu caráter será conduzido a ser completamente distorcido das boas maneiras para se respeitar o próximo e cuidar da própria saúde.
Por isso insistimos tanto nas cobranças políticas, e assim creditamos o que é bom ao merecimento de quem faz, e criticamos o que não favorece a população quando alguém faz apenas para aparecer e conseguir status diante da ingenuidade alheia. Se há oportunidades para a prática do esporte e incentivo à cultura local, não se abre espaço para as crianças alimentarem o desejo de hastear a bandeira da criminalidade, porque ela é rendável e fácil, um atalho perigoso para o fim da esperança.
Somos carentes, mais do que bens, precisamos de atenção. Há um povo que labuta para sobreviver, há uma pequena laia que parasita essa maioria. Enquanto essa maioria viver se deixando levar pelo caos de ser sugada, não haverá santo que interceda por ela.
No segundo caso, o desespero de tirar a própria vida, uma mulher de 45 anos se privando de sentir o que de belo se esconde no mundo, a sensação de respirar, de ver com os olhos da perseverança. Assim como no primeiro caso, não julgamos a escolha dessa mulher, mas é inevitável não dizer que isso também é a junção de muitos fatores que a sociedade com maus governantes oferece à população, aos nossos futuros. Cada qual com sua cruz! Será mesmo? A bondade proferida nesse caos urbanizado é um remédio para evitar o extremismo. Não tornemos o pessimismo uma crença, deslumbremos o que brota para sempre semearmos mais, fazendo florir a geração que sustentará o nosso fardo. Somos seres coletivos.
E dessa vida, o que se leva? Usando um axioma para uma possível resposta, “O que está em baixo é como o que está em cima”. Cada um cria os próprios demônios, cada um ora para os próprios anjos. A individuação (quando o indivíduo vive as próprias vontades dentro da sociedade sem se deixar levar por influências) existe para que seja a intimidade cuidada dentro de si, é como se resguardar sendo o próprio templo, a pequena partícula divina que reluz.
Adiantar o percurso nessa estadia terrestre, será essa a solução? Tombar antes mesmo de cumprir o trajeto é justo consigo mesmo? E quem fica remoendo essas situações, além de carregar o caixão tem que conviver com a precipitação de quem não soube respeitar o próprio fardo? O fio da esperança escorre fino e nutritivo, passar o dedo por ela para saborear é como não acreditar em si mesmo, interceptando o que poderia levar mais longe. Deixá-lo escorrer dentro de cada um, livre e intocável, podendo ser esse o alimento da vida, pode ser essa a resposta que buscamos para seguirmos com o viver.
Precisamos de exemplos de vida, de paz, de segurança, de saúde, de educação, de esporte e cultura, para que o ciclo não seja corrompido, como acontece com a cadeia alimentar dos animais.
Conscientes, sigamos os bons exemplos, mesmo com a dificuldade de encontrá-los, como agulha no palheiro, mas eles existem e estão por aí. Acredite. Persevere!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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