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Rodrigues de Abreu e “Casa Destelhada”

Nos primeiros dias de março de 1927, a Editorial Hélios, de Cassiano Ricardo, lançava o livro “Casa Destelhada”, de Rodrigues de Abreu, obra que consagraria a personalidade fortíssima do bardo capivariano.

A repercussão deste lançamento soou enormemente pelas plagas brasileiras. Afinal, um livro desse naipe, só poderia ser grandioso e eloquente, como realmente o foi, pelos inúmeros depoimentos e artigos falando sobre a notável edição.

Entre os que escreveram sobre “Casa Destelhada” e o seu autor, estava Amadeu Amaral, não só amigo do poeta, mas também o seu conterrâneo que, com todos os méritos possíveis, galgou a Academia Paulista de Letras e a Academia Brasileira de Letras.

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Pois, bem. No dia 21 de maio deste mesmo 1927, o jornal O Estado de S. Paulo publicava o extenso e interessante artigo de Amadeu Amaral, com o título de Resenhando “Casa Destelhada”. Nota-se que 6 meses depois, em 24 de novembro de 1927, falecia o poeta em Bauru. Já, em 24 de outubro de 1929, dois anos depois, falecia Amadeu Amaral, aos 54 anos de idade.

Assim, para conhecimento de todos, aqui reproduzimos alguns trechos esta crítica literária, que se segue. É uma forma de sempre atualizarmos as seguidas homenagens que prestamos a ambos os poetas de nossa Capivari.

Rodrigues de Abreu e “Casa Destelhada”
Rodrigues de Abreu e “Casa Destelhada”

“Rodrigues de Abreu é um poeta original. Nem por sofrer visivelmente, várias influências deixa de ser. Se-lo-á mesmo quem sabe! Porque não repele influência, de “parti´pris”, na preocupação infantil de não se parecer com ninguém. A questão não está em não aparecer com ninguém. Shakespeare parece-se muito com uma porção de dramaturgos ingleses do seu temo. Cervantes parece-se por alguns lados com quase todos os escritores espanhóis da sua época, da época que o precedeu e da que se lhe seguiu. Não há nada que as assemelhe tanto a Racine como a multidão dos poetas franceses do tempo de Luiz XIV. A questão é de ser um pouco maior do que os semelhantes…A diferença que vale é de altura e de força, e não de feições imitando. É porque adergou de haver consonância entre a impressão recolhida e a vibração interior. Caso passageiro e fortuito. Efeito natural de uma imaginação sem esperteza e sem malícia, aberto a todos os próprios d vida. Imitação que se dilui na larga correnteza de um estado lírico permanente. Simples reflexo ocasional. A grande imitação de Rodrigues de Abreu – a única a que me referir especialmente, por ser a maior que merece detenção, – é a dos moldes gerais da poesia moderna! O verso livre da metrificação simétrica, a renovada bagagem dos motivos e exploração de certos trilhos ainda não batidos, a decidida preferência pelas imagens entre os vários recursos de que dispõe a expressão poética. Abreu sentiu a necessidade, muito natural num moço, inevitável nos moços, de ser do seu tempo. Vestiu-se conforme a moda. E fez muito bem. Todos os dias aparecem menores inexperientes que pensam fazer versos no estilo novo, porque aprenderam mais ou menos a apresentação exterior, o que há nele de mais acidental, ocasional, acessório e provisório. Quanto a outros no sentido íntimo das tentativas renovadoras, guardando o próprio “controle” Interior, nada! Abreu soube, porém, aproveitar admiravelmente a “oportunidade” que a nova onda poética lhe abria, não para se impor às vistas, mas para se revelar a si mesmo; não para se despersonalizar num uniforme, mas para cortar uma roupa à medida do seu corpo. Contemplou, viu, pensou, experimentou, – e achou o seu caminho. O “seu” caminho próprio, muito seu, dentro da orientação geral do seu tempo. Tudo isso que o poeta nos diz, na sua obra “Casa Destelhada”, lhe nasce diretamente do coração. A sua ingênua bondade de criatura não contaminada pelas brutezas e saudades da vida, a sua tristeza profunda de moço pobre, de lutador sem prêmio e de informe cruelmente experimentado, tudo transparece naquela única linguagem que poderia traduzi-lo, a linguagem musical dos seus correntes e desordenados versos”.

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