ArtigosJ.R. Guedes de Oliveira

A pintura da Tarsila do Amaral: Laura Brandão

Nestes dias que comemoramos o aniversário de nascimento da pintora capivariana Tarsila do Amaral (1º. de setembro de 1886), lembramos que não foi enorme a sua produção artística, mas, contudo, de uma singeleza especial e de uma formosura sem tamanho.

Coincidentemente, estamos lendo que após 50 anos de sua morte descobre-se um quadro com o título de “Paisagem 1925”, guardado por Moisés Mikhael Abou Jnaid, este de origem libanesa que afirma a obra resistir aos bombardeios de guerra.

Contudo, após a verificação e autenticidade da obra, afastando-se, de vez, a sua falsificação, registra-se como patrimônio da produção artística da Tarsila do Amaral, mas ainda pendente de acertos jurídicos por parte dos que detém o espólio da pintora.

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Não sou um “expert” no assunto, embora estudioso da obra e da vida da pintora que conheci na minha mocidade, lá pelas bandas dos meus 15 anos, quando ela morava no casarão da rua Fernando de Barros com a rua Barão do Rio Branco (próximo a “Biquinha”), posso afirmar, peremptoriamente que considero acervo da pintora não só as suas obras acabadas, mas, ainda, os seus esboços e rabiscos capazes de identificar como estudos da sua produção. É o que acho, muito embora sabendo que os que detém os seus direitos, andam à contramão desta minha posição. Lembro, aqui, que até em Capivari há esboços de seus traços de pintura, presente dela para a família Stein. Considero, pois, autêntico acervo da pintora, com reconhecimento de autenticidade de produção física de obra como um todo, repito.

A pintura da Tarsila do Amaral: Laura Brandão
A pintura da Tarsila do Amaral: Laura Brandão

Isto tudo, sem contar o grande imbróglio que ocorreu no ano passado, com o acervo do escritor e tradutor Alípio Correia sobre 15 trabalhos em nanquim sobre papel, de sua propriedade – todos da Tarsila do Amaral. Os detentores dos direitos sobre as obras da pintora, entraram em choque que nem sei a que fim chegaram com tanto ímpeto. O direito do escritor está no campo da generalidade de produção artística da pintora.

Que não bastasse tanta celeumas trazidas em saber-se onde ela realmente nasceu, mais estas gritas que são até de se lamentar profundamente. Não era assim enquanto a pintora viva. Sabemos o quanto ela foi esquecida por muitos e pela sociedade, pois que ela estava 50 anos na frente de muitos que a rodeavam, mas que desejavam distância dela. Tanto é verdade que acham ela ter nascida na Fazenda São Bernardo, hoje pertencente a cidade de Rafard. Acham que ela nasceu em Mombuca, lá pelas bandas da hoje Fazenda São Jerônimo. Outros ainda acham que ela nasceu na Fazenda Santa Tereza do Alto, que pertencia a Jundiaí, hoje do município de Itupeva.

Há quem diga, ainda, que ela nasceu numa das fazendas em Indaiatuba ou mesmo no sítio da dona Rute. Enfim, inúmeras hipóteses. Mas como ela é uma pintora das mais célebres, penso que esta coisa provinciana de sua naturalidade, é banalidade. E ficamos, como ela mesmo se expressou, quando perguntada: “Nasci em Capivari”. E a mim perguntado, respondo: “Ela nasceu mesmo numa cama”.

Há um fato muito intrigante. Junto com Oswald de Andrade, visitou a então União Soviética e na capital Moscou, bem antes da eclosão da 2ª. Guerra Mundial, compartilhou da amizade que tinha pela poeta Laura Brandão, exilada junto com o seu marido Octavio Brandão e as filhas, ainda pelo Governo de Getúlio Vargas. Uma amizade das mais firmes e acolhedoras. Foi ai que a Tarsila do Amaral pintou o rosto da poeta Laura Brandão. Contudo, veio a eclosão da guerra e Moscou bombardeado pela artilharia nazista. Os seus moradores recuados e a pintora teve que deixar a capital soviética e exilar-se, então, na distante cidade de Ufá, na República do Bascortostão, nos montes Urais, onde faleceu em plena guerra (1942).

Há muitos anos fiz contato com as três filhas da Laura Brandão, perguntando sobre a referida pintura. Não consegui, infelizmente, saber se esta raridade ainda existe ou se foi tragada pelas bombas nazistas em Moscou. Uma das filhas ainda me disse que fugindo destes terríveis bombardeios, o apartamento onde moravam na capital, foi fechado e não se soube, nunca mais, do destino de todo material que lá havia: fotos, quadros, livros, documentos, roupas, móveis, escritos pela pintora e pelo Octavio Brandão. Que destino foi reservado?

Eis, pois, num pequeno escrito, a questão de se saber onde e como encontrar o quadro pintado pela Tarsila do Amaral com o busto da poeta sua amiga Laura Brandão. É obra que também deve constar no patrimônio da artista, embora não se saiba onde se encontra ou se foi tragada por algum incêndio.

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