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A dimensão social da fé

A vida humana e a fé cristã têm uma dimensão social e isso é aceito sem maiores dificuldades, assim como não se negam suas implicações sociais. “É algo tão evidente que se impõe por si mesmo.

O problema reside em saber em que consiste, propriamente, essa dimensão social, como vai se configurando e determinando (para o bem ou para o mal) nossa vida e nossa fé e, no que diz respeito à ação pastoral da Igreja, qual a natureza e a especificidade do que, na Igreja do Brasil e da América Latina em geral, chamamos de Pastoral Social” (p.15) e onde se atualiza o ensinamento do Evangelho de Jesus.

A vida humana só existe socialmente. “Não existe vida humana a-social, no sentido de que não seja social ou no sentido de que, embora sendo assim de fato, não tenha de ser necessariamente assim.

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O ser humano não é uma realidade meramente individual que, por uma ou por outra razão, acaba se relacionando com os outros; não é primeiro individual e só depois social. O social é constitutivo da vida humana: é uma de suas dimensões, notas ou características essenciais. De modo que, vale repetir, só existe socialmente, vinculado aos demais” (pp.15-16).

Os seres humanos “estão genética e humanamente vinculados uns aos outros. São, por sua própria estrutura biológica e por seu próprio processo de humanização, seres essencial e constitutivamente sociais.

No processo de humanização eles se vinculam uns aos outros e convivem entre si, para o bem ou para o mal, tanto de modo pessoal quanto de modo impessoal. Por um lado, vinculam-se e convivem com os outros enquanto pessoas: “comunhão pessoal”. Nesse modo de convivência (família, amizade, vizinhança, comunidade etc), as pessoas são absolutamente insubstituíveis” (p.17).

Em sentido amplo, “o social diz respeito tanto à “comunhão pessoal” quanto à “sociedade”. Mas em sentido estrito diz respeito unicamente à sociedade.

Nela, homens e mulheres se fazem presentes e atuam na vida uns dos outros – con-vivem – de modo impessoal, ou seja, enquanto pessoas reduzidas à mera alteridade: “meros outros”. (p.17). Também não existe “fé independentemente de um modo de vida, isto é, de uma forma ou figura concreta de vida. Daí porque não se pode falar de fé “em si”, como algo separado da vida/práxis concreta do crente (p.19).

A fé consiste no seguimento de Jesus de Nazaré.” E aqui não basta ter fé em Jesus (confessá-lo doutrinalmente e celebrá-lo ritualmente, é preciso ter a fé de Jesus (viver do que e como ele viveu), o iniciador e consumador da fé (cf. Hb 12,2): “uma fé ativada pelo amor” (cf. Gl 5,6), que se mostra nas obras (Tg 2,18), que nos leva a passar “fazendo o bem” (At 10,38), que nos faz “próximo” dos caídos à beira do caminho (Lc 10,25-37) e que tem como medida e critério definitivos as necessidades da humanidade sofredora (cf. Lc 10,25.37; Mt 25,31-46)” (p.20).

O grande desafio da fé consiste “em discernir e escolher, em cada caso e em cada situação, entre as reais possibilidades disponíveis, as mais adequadas e mais fecundas para a configuração de nossa vida e de nosso mundo segundo o dinamismo suscitado por Jesus e seu Espírito” (p.22). “Daí que não basta cuidar do “coração” e convidar as pessoas à conversão” (p. 23).

A Pastoral Social se constitui como fermento evangélico nas estruturas da sociedade, denunciando a injustiça, a exploração e a discriminação e anunciando eficazmente uma nova forma de estruturação da sociedade.

Referência:
AQUINO JUNIOR, Francisco de. Dimensão socioestrutural do Reinado de Deus: escritos de teologia social. São Paulo, Paulinas, 2011.

Pe. Antônio Carlos D´Elboux
Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Saltinho

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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