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Contos do Caipira: meu corotinho de madeira

Faz tanto tempo
Mas parece que foi ontem
No meu aniversário de 14 anos
Ainda me lembro
Não era março e nem maio
Mês de abril
Meu pai veio me falar:
“Agora já pode trabalhar”

Fiquei tão contente
Não via o dia chegar
Meu pai comprou para mim um par de sapatão
Do jeitinho que eu sonhava
Para começar
Foi tudo sendo pensado até o dia chegar

Uma cesta feita de bambu
Uma garrafinha para levar café
Garrafinha de caracu
Um caldeirãozinho para levar comida
E um corotinho de madeira
Já estava cheio de água, pois era novo
Tinha que ficar por uns dias para sair o gosto

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Levantei bem cedinho
Na cesta, um guardanapo branquinho
Não me lembro o dia, se era terça ou segunda-feira
A garrafinha de café, a colher, a marmita
Um potinho com sal, um vidro de pimenta
Uma vasilha com salada, um pedaço de bolo embrulhado

Ainda na cesta levava a lima para amolar o facão
Que também ia junto
Um plástico grande, do tamanho de uma toalha de mesa
Bem dobradinho ia cobrindo tudo que guardava na cesta
Servia para proteger da chuva, para não molhar

Meu pai cortou uma tira de couro
Colocou na alça da cesta, assim podia enroscar no ombro
No outro ombro, também com uma tira de couro, ia o corotinho
Assim eu saí para trabalhar todo feliz
Com um chapéu novo na cabeça
Canivete enroscado na cinta se precisasse usar

Mas isso foi quando eu completei meus 14 anos
Hoje, a idade nem quero contar
Só quero recordar

E o meu corotinho de madeira
Onde será que foi parar?

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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