Artigos

Contos do Caipira: Sem cavalo e sem Princesa

Nosso pai comprou uma égua.
Deu o nome de Princesa.
Princesa era ligeira por natureza.
Nosso pai deu a Princesa de presente para a nossa mãe.
Mamãe ficou muito contente.
A Princesa, além de ligeira, só faltava falar.
Em troca da Princesa, o negociante pediu uma garrucha e uma leitoa.
Bem rápido o negócio saiu.
A eguinha era mansa, mas queria muito trabalhar.
Dois ou três dias no pasto, não deixava mais ninguém pegar.
Se ficasse sem sair, dava coice pra lá e pra cá.
Quando pusesse na charrete, quebrava até o varal.
Numa noite, chegaram em casa, não sei como sabiam,
vários ciganos.
Trocar a égua eles queriam.
Apresentaram um cavalo manso em troca da Princesa.
Era manso mesmo. Podia passar até por baixo, o cavalo não fazia nada.
As crianças irão gostar, eles diziam.
Pode montar sem medo e sem arreio.
Com dor no coração, o nosso pai acabou fazendo negócio.
Nossa mãe nem perto veio.
No dia seguinte, o pai foi ver o cavalinho.
Só então que percebeu.
O coitado do cavalinho era velhinho e doente.
Morreu depois de dois dias.
Nosso pai, nervoso; nossa mãe chorava e as crianças também.
Ficamos sem a Princesa, que só tinha seis aninhos,
e sem o cavalo também.
Acabou a alegria da família inteira.
Esse foi o tal negócio no escuro.
Não deu nem pra dar um passeio no pobre cavalinho.
Pobrezinho.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?