ArtigosJ.R. Guedes de Oliveira

Encontro com escritor americano

Aproveito a minha estada em Denver, Colorado (EUA), para um encontro com o escritor Ryan Rydzewski, autor da obra “When you wonder, you´are learning” (Quando você se pergunta, você está aprendendo), obra em parceria com Gregg Behr.

Ryan é um escritor, palestrante e eminente educador, nascido em Erie (Pensilvânia), formado pela Universidade de Pettsburgh. Iniciou o magistério no sul de Louisiana, concluindo o mestrado, na área educacional, na Universidade de Chatham. Além do seu trabalho jornalístico, com artigos, poesias, ensaios, exerce o voluntariado em organizações não governamentais ligadas à educação infantil e juvenil. A base do ensino de Ryan é “dar à criança e ao jovem o poder construtivo da criatividade, da curiosidade e da formação carinhosa para com todos”.

Excelente figura, brilhante no escrever, pensar e falar, tive com o Ryan o ensejo de trocar ideias sobre literatura, principalmente em se tratando de poesia – foco predileto desse jovem autor. Ele adquiriu experiência educacional para jovens, através do seu mentor maior Fred Rogers (1928-2003), notável pedagogo, escritor e pregador presbiteriano da Pensilvânia. A base do ensino é fazer com que o pequenino aprendiz escolar tenha o conhecimento do mundo, isento das amarras e refletindo essencialmente a realidade presente. Este tem sido o diferencial da inovadora meta educacional. Mais ainda, a necessidade de apresentar ao jovem aprendiz as ferramentas necessárias ao seu desenvolvimento intelectual. Pois, bem. Lembro, aqui, da teoria de Herbert Spencer (1820-1903), empregada nos meus tempos do ensino fundamental, que já se notava a diferenciação, pois que dois aspectos eram salientes: as classes eram compostas por fileiras de alunos e classificados em seções A, B, C e D. A seção “A” – os mais avançados; a seção “B” – pouco abaixo da seção “A”; a seção “C” – evoluindo para a seção “B”; e a última, a seção “D” – os mais fracos de todos e com imensa dificuldade de aprendizado.

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É lamentável, mas o Ryan disse que o poeta Walt Whitman é um tanto esquecido das novas gerações es que nem mesmo a mídia dá destaque ao autor de Leave of Grass. Estranho, pois, o total obscurantismo que Whitman pena, nos Estados Unidos, em tempos atuais. As páginas jornalísticas estão mais para assuntos políticos e bélicos.

Como uma forte neve cai sobre a cidade do Colorado, aproveitamos para discutir sobre assuntos variados, não deixando de lembrar do filósofo Daniel Dennett, falecido no dia 19 passado, aos 82 anos de idade. Dannett foi uma referência no pensamento filosófico da América e uma verdadeira enciclopédia viva, tal o seu vasto conhecer de matizes diversas do conhecimento humano.

Aproveito, também, para colher do simpático escritor, as suas impressões sobre literatura, o que é bom sempre proceder dessa forma, para uma recomposição de energia. Eis, pois, o que ele me respondeu, por uma tradução simultânea de minha filha Marília, que há alguns anos reside em Denver, cidade muito procurada por atletas que desejam se preparar para competições esportivas.

Ryan Rydzewski, escritor americano
Ryan Rydzewski, escritor americano

 

Como é o seu processo de criação literária?

Sou um escritor de não ficção, então, para mim, tudo começa com muita pesquisa. Gosto especialmente de jornais antigos, periódicos e documentos de fontes primárias. Se eu não fosse escritor, provavelmente teria sido historiador ou arquivista. Eu poderia passar o dia todo, todos os dias vivendo no passado – mas em algum momento você tem que sentar e começar a escrever, caso contrário o passado fica no passado. É meu trabalho dar vida às coisas no presente.

 

Qual é o momento mais adequado para esse trabalho criativo?

Descobri que, se não escrevo de manhã, muitas vezes não escrevo nada. O melhor horário, para mim, é entre 6h e 10h. É quando estou mais alerta e focado, e é quando escrevo melhor. Agora que tenho um filho pequeno, porém, é raro conseguir escrever durante esse período!

 

Como deveria ser o ambiente em torno desta criação?

Na hora de escrever, faço sempre a mesma coisa. Sento-me à minha mesa com uma xícara de café e coloco meus fones de ouvido. Não ouço música, mas sim ruído branco – uso o ruído branco para bloquear todos os sons do mundo exterior. (Eu gostaria de poder ouvir música, mas para mim é muito perturbador.) Descobri que quanto mais consistente for meu ambiente de escrita, melhor se tornará minha escrita. Assim que ouço o ruído branco, meu cérebro sabe que é hora de escrever. Não preciso perder tempo tentando entrar no estado de espírito correto.

 

Há pesquisas em bibliotecas ou centros de estudos, além de pesquisas por outros meios, como a internet?

Sim! Meu lugar preferido para fazer pesquisas são arquivos, tanto municipais quanto privados. Os arquivistas são as pessoas mais prestativas do mundo. E como outras pessoas raramente visitam os arquivos, é provável que você encontre coisas sobre as quais ninguém mais escreveu.

 

Qual a sua linha literária, ou seja, mais próxima do seu gosto?

Para não-ficção, gosto de história, ciência e viagens. E gosto especialmente quando os autores misturam os três. Os autores americanos Bill Bryson e Mary Roach são meus favoritos. Meus gostos de ficção são mais variados: neste momento estou lendo 2666, o enorme romance final do autor chileno Roberto Bolaño. É o melhor romance que li em muito tempo. Também adoro a ficção de George Suanders, que considero o melhor contista do planeta.

 

Via de regra, essas fontes são de autores já consagrados?

Costumo citar autores consagrados em meu trabalho. Se gosto do que eles estão fazendo, posso presumir razoavelmente que meus leitores também gostarão.

 

Vale a pena financeiramente escrever livros nos Estados Unidos?

Há um pouco de dinheiro nisso, mas não muito. Pelo meu primeiro livro, recebi aproximadamente o equivalente ao que um professor de sala de aula poderia ganhar em um ano. Mas meus pagamentos foram distribuídos por três anos e, claro, seu agente também recebe uma parte. Portanto, poucos autores ganham dinheiro suficiente para viver exclusivamente da escrita de livros. Mas escrever livros pode abrir portas para outras oportunidades financeiras, como ensinar e dar palestras. Na minha experiência, falar em público paga muito melhor do que escrever – mas você precisa ter escrito um livro antes que alguém lhe pague para falar!

 

Qual é o seu tema preferido para escrever uma obra literária?

No momento, estou interessado em trabalhos que explorem o que significa viver uma vida boa. Quero chegar ao fim da minha vida – quando for – com o mínimo de arrependimentos possível. E estou procurando livros de ficção e não ficção que possam me ajudar a fazer isso.

 

Em média, qual é a circulação dos exemplares?

A maioria dos livros vende muito poucas cópias. A grande maioria vende menos de 5.000 cópias, e muitas vendem bem menos que isso. O mercado é muito competitivo.

 

Existe uma boa demanda pelos seus livros?

Tenho sorte de meu primeiro livro ter vendido mais de 30 mil cópias até agora, o que é considerado um sucesso modesto para um livro americano escrito por um autor que não é uma celebridade. (E definitivamente não sou uma celebridade!) Demorou cerca de três anos para vender tantos livros. Tenho esperança de que meu próximo livro tenha um desempenho ainda melhor, agora que alguns leitores sabem meu nome.

 

Os editores ou organizações contribuem financeiramente para o seu trabalho?

Sim, recebi um adiantamento do meu editor. Se meu livro vender cópias suficientes, também ganharei royalties por cada cópia vendida. Mas ainda não cheguei lá!

Enfim, são estas observações que surgiram ao encontro com o escritor e pesquisador Ryan Rydzewski, uma personalidade marcante na literatura e no ensino pedagógico nos Estados Unidos.

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