Eu vou contar o que eu estou vendo
e que você num pode ver.
Você vai escutar o que eu estou falando
e pode não entender.
Uma carroça com rodas de ferro, descendo a Rua XV
com duas pareia de burros caminhando, sem precisar bater.
Um eletricista subindo num poste sem escada, usando esporão.
Tô vendo um cavalo amarrado num mourão!
Eu vejo um pedreiro fazendo uma casa de barrote
e um garoto tentando tomar água num corote.
No meio do jardim, um boiadeiro tocando um garrote.
A mulherada na janela olhando um caboclo cortar um galho com serrote.
Eu não estou dormindo, também não estou sonhando.
Mas vejo um pé de bode na esquina funcionando.
O chofer com a manivela, atrás do banco guardando.
Um alfaiate de suspensor sai na porta, ele está pitando,
com a fita no ombro e um pedaço de pano.
Eu estou sentado pertinho de um chafariz,
pitando um cigarro de palha, fumo forte de arder o nariz.
Eu estou vendo tudo isso, e o serviço que eu fiz
com meus próprios braços.
Estou aqui parado e não sinto cansaço.
Tem tanta coisa bonita, que daqui não dá vontade de sair.
Estou leve como pena, até parece que morri.
Mas voltei longe no passado!
Na minha velha Capivari.