Lá pelos idos dos anos 70, logo que eu chegava para almoçar, minha mãe dizia para que ligasse o rádio na Bandeirantes, para juntos ouvirmos Hélio Ribeiro em seu programa “O Poder da mensagem”.
Creio que muitos dessa época, também sintonizavam a Bandeirantes nesse horário, pois o programa de Hélio Ribeiro era líder de audiência. Nele se ouvia conselhos familiares através de mensagens filosóficas, onde o locutor chamava os ouvintes à reflexão.
Havia um momento do programa em que ele fazia traduções livres para o Português de músicas internacionais que estavam fazendo sucesso.
Num final de ano, ouvi no programa “O Poder da Mensagem” uma das mais bonitas transmissões que a título de exemplo, transcrevo abaixo – apenas parte – que é uma pérola da comunicação do rádio brasileiro, que Hélio Ribeiro com sua voz de barítono, de forma improvisada aos microfones da rádio Bandeirantes em 31-12-75 declamava:
“Como poderá o ano novo ser feliz se os homens que promovem as infelicidades continuarem sendo os mesmos?
A Terra, esse pequenino e inocente planeta, cumpriu a sua missão de girar e girou na sua translação ao redor do Sol, ou na sua revolução ao redor de si mesma, o que mantém essa pequenina parcela do cosmos em equilíbrio com o próprio universo.
Os homens nasceram, os homens morreram, os homens se ajoelharam para plantar sementes, se ajoelharam para falar com as crianças, se ajoelharam para pedir perdão e se ajoelharam para sua própria execução.
Os homens mataram e roubaram, mentiram e juraram e a maioria dos homens ficou falando de sua verdade particular, individual, do seu interesse próprio, mesquinho.
A verdade está acima do homem que dirige e do homem dirigido.
A verdade está acima do homem que sabe e do homem que não sabe.
A verdade está acima da mulher que gera filhos e da mulher que mata a possibilidade de vida dentro de si.
E os homens continuaram enganando-se, continuaram mentindo, continuaram prometendo.
E justificaram seus erros promovendo novos erros, e foram injustos na sua justiça.
Aperfeiçoaram máquinas, inventaram, parlamentaram, guerrearam para garantir energia para a geração futura que eles mesmos estão matando no ventre materno.
Pelo temor do presente mataram adultos, pelo temor do futuro matam aqueles que deveriam nascer.
Dois mil anos, três mil, quatro mil, cinco mil em termos de tempo cósmico, universal, esse tempo não é nada.
Nosso tempo é muito curto, muito rápido, vertiginoso, veloz, ele passa… e passou.
E nós não temos ainda plena ciência do que somos, de onde viemos e para onde estamos caminhando.
Como poderá o ano novo ser bom se os homens promotores de infelicidade continuarem agindo da mesma maneira?
Mas seja verdadeiro, realista, acredite você no que acreditar, vá fazer uma pesquisa na Rússia, nos Estados Unidos, na França, no Japão, na China, no Brasil e você sentirá uma angústia dentro de cada ser humano. Cada vez menos humano, cada vez menos indivíduo, cada vez menos gente.
A lágrima da criança oriental é igual à lágrima da criança ocidental, e as lágrimas das duas são iguais a todas as lágrimas de todas as crianças do mundo porque são salgadas. E sangue é vermelho no mundo inteiro.
Como poderá o ano novo ser melhor? Feliz Ano Novo? Como o Ano Novo poderá ser melhor?
Se você conseguir melhorar as condições de relacionamento neste seu pequeno mundo, o mundo inteiro ficará menos ruim, consequentemente, obviamente ficará melhor, porque você o melhorou no seu pequeno ou no seu grande círculo de relações.
Experimente, tente. Afinal de contas essa vida é sua, é minha, é nossa, e ela passa tão rapidamente, tão veloz, de repente você não está mais, de repente você quer abrir os olhos e não abre mais!
E você não fez nada, e você não viu nada, você não sentiu nada, você não melhorou nada.
Como poderá o ano novo ser feliz se você não for feliz? Como poderá o ano novo ser melhor se você não for melhor?
Que Deus nos ajude a todos para que possamos ser realmente verdadeiros, quando dissermos uns aos outros.