Leondenis Vendramim

Roedores de caráter

Há alguns anos, um camundonguinho entrou em minha casa, subiu no sofá, quando percebemos, ele havia feito um enorme estrago, tão pequenino e que grande prejuízo! O livro Cântico dos Cânticos contém a estrofe: “Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor.” (2:15)

Aos 19 anos fui morar na casa de minha tia, minha prima Iracema era zelosa na limpeza da casa. Mas, à noite encontrávamos pulgas, que não nos deixavam dormir; amanhecemos todos salpicados de sangue. São insetinhos tão minúsculos, mas nos causavam grande tormento.

Assim, o caráter é corrompido por atos e palavras, que às vezes falam-se por brincadeira, outras, que lhes parecem inofensivas, porém tornam as pessoas indesejáveis. Os vícios são outras raposas devastadoras da personalidade. Assim, como num quadro belo, limpinho, destaca-se uma pintinha destoante, numa pessoa salientam-se os defeitos e não as virtudes.

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Com meus 15 anos, fomos, aqui de Rafard e Capivari, unir-nos com outras caravanas para apresentar, no dia 7 de setembro, no Pacaembu, em São Paulo, uma série de exercícios.

Treinamos muito antes da viagem. Ficamos, nesse estádio, mais 15 dias sob a orientação de um professor, por nome Saulo. O Tenente Padilha foi verificar o resultado no dia 3 de setembro. Diante dos treinos quase perfeitos, ele dizia: “Está bom, mas pode melhorar”. Então, no dia 7 de setembro, todos de branco, o estádio cheio, os atletas deram um show aos espectadores. Ficou na minha mente a sentença: “Está bom, mas pode melhorar”.

O caráter pode estar bom aos olhos humanos, mas pode melhorar. Sob o escrutínio divino, ainda há muito a melhorar. Perfeição é Deus e Ele diz: “Sede santo, pois Eu sou santo” (1 Pedro 1:16) “Ele nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele, para ser filhos de Deus por meio de Jesus.” (Efésios 1:4-5) Ainda há uma longa caminhada ascendente e pedregosa, um verdadeiro treinamento espartano, uma luta infindável contra o eu.

É preciso uma força de vontade ingente para eliminar os maus desejos, o egoísmo, os impulsos explosivos, o orgulho e aprimorar a conduta diante do Deus santo, que tudo vê. Ao compararmo-nos com a santidade e bondade de Cristo, quão longe estamos! Talvez sejamos bons pais e esposos, mas podemos melhorar

Diz a famosa educadora norte-americana, Ellen G. White: “Com a maior diligência e estrita vigilância deve ela (a mãe) cuidar dos pequeninos, que se deixar, seguirão cada impulso que brota do fundo do coração inexperiente e ignorante. Na exuberância de seu espírito darão expansão ao barulho e à turbulência no lar. Isso deve ser impedido. As crianças serão igualmente felizes se forem educadas a não fazer tais coisas. Devem ser ensinadas que ao chegarem visitas, devem ficar quietas e respeitosas.” (Orientação da Criança, 97)

Quando visitei os índios, fiquei ali 10 dias. Aprendi um pouco de sua língua e cultura. Ganhei um lago de presente, só eu pescaria lá. Ensinei-lhes inglês.

Vi uma árvore com um nó no caule. Como admirei a obra, o curumim (menino) que me acompanhava disse: “Quando a árvore é ainda nova dá um nó frouxo e quando cresce fica assim.” “Ensina o menino no caminho que deve andar e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Prov. 22:6) Um dos roedores do caráter é a falta de regras, restrição e disciplina no lar. As crianças precisam ser guiadas, elas ainda não possuem discernimento. Até a nossa legislação as protege, como incapaz e vulnerável.

Quando crianças de tenra idade gritam e batem os pés, rolam pelo chão, exigindo que lhes façam a vontade, os pais merecem umas palmadas. Se forem atendidas pela gritaria, ela repetirá a cena na rua e a repetição tornará um hábito a macular o caráter.

Amar os filhos é educá-los para serem cidadãos respeitadores e respeitados. Se não respeitam os pais, o mesmo acontecerá para com os professores e para com a polícia, e estes usarão da força, então, serão uma vergonha para os pais.

O orgulho é outra mancha, que se aprofunda no caráter deformando-o. Há pais que trabalham por muitas horas diárias, não têm tempo para o lazer com a família, no afã de dar roupas luxuosas, materiais escolares vistosos e suprir todas as coisas supérfluas aos filhos, visando um status na sociedade.

Assim fazendo, estarão alimentando o orgulho e a ostentação dos filhos, que se veem superiores aos colegas, tornam-se arrogantes e impopulares. Ultrapassam o seu orçamento, acabam perdendo a esposa e os filhos, que sentirão a falta da afetiva paternidade.

Que os pais satisfaçam as necessidades da família provendo alimentação e uma vida digna, ainda que com frugalidade, mas com muito amor paternal.

As mães devem ensinar as crianças a guardarem seus brinquedos, colocando-os em ordem, a auxiliá-las nas suas tarefas domésticas e elogiar seu pequeno esforço nesse intento, ainda que não esteja perfeito. O espírito de desordem é outra raposinha a manchar a personalidade.

Assim como os pais erram, pedem e esperam pelo perdão, quando o filho quebra a lei da sociedade, e é visto com frieza pela sociedade, não falte o amor paterno ao arrependido.
Que o Senhor nos ajude na difícil tarefa de construir o caráter de nossos filhos!

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